quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ops!


*

Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo
do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente
Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista
Despreocupa-se
e pensa no essencial
Dorme e acorda
Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga
Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema
Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você
Despreocupa-se
e pensa no essencial
Dorme e acorda
(Gerânio - Marisa Monte)


***


Nunca foi fácil escolher, mas agora, com toda a certeza que eu poderia ter, te digo: eu sei aonde quero estar. Eu sei exatamente o preço que vou pagar, o prazer que vou gozar, as pedras que vou catar. E se tanto te interessa: sim, estou pronta. E honestamente, não compreendo porque se preocupam tanto, sou do tipo que sempre soube se safar. Malabarista de primeira, trapezista das boas, palhaça de nascença, sou um circo inteiro se duvidarem. O que não sou hoje, me torno amanhã. O que não sei, aprendo. O que me desafia, agarro. O que me subestima, nem de perto me abala. E para quê razão quando se tem coração? Para quê motivos quando se tem abrigos? Sem limites e sem máscaras, sem jogo e sem pressupostos, de olhos fechados, de corpo fechado. Passos pesados, alma leve. Protegida. Vigiada. Questionada. Questionadora. Quero saber, quero ver, quero ir, quero ter. Em busca. Um plano. Unhas e dentes encravados nele. Uma vida inteiramente minha, um infinito de caminhos completamente meus, escolhidos unicamente por mim. Cada vez mais independente, independentemente do que vão pensar. E quer saber? Você não sabe, ninguém sabe. Eu sei e te conto uma parte, o que me sai sem dificuldade, mas reafirmo: não é tão fácil. Mas tem sido assim...e eu so te peço vida minha: me leva, e nem espera. Me carrega e nem pergunta. Me faça apenas parar de pensar. Essa história de rumo sempre querendo atrapalhar. Ignora. Se joga. Se faz revidar. Não aceita pré-determínio, pré-sonho, pré-ocupação, pro escambau, eu quero é viver. Com licença, passar bem, adeus, e um beijo. Já volto. Um dia. Talvez. Quem sabe...nunca mais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Strawberry Swing













De fato. Quando é meio dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr-do-sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.




É noite, e da noite eu entendo bem. Te descreveria com precisão todo o meu céu e te contaria com prazer sobre a intimidade com a qual eu me movo pelo escuro. Gosto do escuro como gosto da imensidão do mundo e gosto das estrelas como gosto de onde eu me sento para observá-las, e por isso, subi mais uma vez ao telhado. Fui criada ouvindo "O Pequeno Príncipe", e acreditei que fosse eu a sua pequena princesa. Fiquei amiga da raposa, da flor e do aviador. Desenhei carneiros e persegui serpentes e jibóias. Fiz milhares de perguntas por aí, sem parecer sequer ouvir as respostas. Me intriguei pelos planetas perdidos, encontrei tesouros e, durante muito tempo, minha maior distração foi a doçura do pôr-do-sol. "É tão misterioso o país das lágrimas!", é...sabe-se lá de onde surgem, nesse íntimo misterioso nascer de tudo que dizem existir lá dentro da gente! "As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem".

E para continuar nesse mundo secreto e criativo, eu me arrisquei, mas quem não se arrisca não alcança a glória dos momentos que ganha. E com muitas lágrimas, marquei uma trilha para saber como voltar. O preço que pago por ter asas nos pés é esse coração dividido, doado em partes, conviver com os pedaços que deixo e que me faltam. Como Joãozinho e Maria, eu tive medo de não saber reencontrar. Por tantas vezes vivi nesse mundo somente meu, e quando tentei dividir, encontrei tantos valores diferentes dos que aprendi...alguns apenas repudiei, outros, ignorei. Pessoas de todos os tipos, a gente nem sempre é bem vindo.

"- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra..."
"De onde vem? O que faz aqui?" Cuidado com as respostas, cuidado com os dragões, cuidado com as suas pétalas. Se proteja.

"Suspirou de pesar e disse ainda:
- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...
O que o principezinho não ousava confessar é que os mil quatrocentos e quarenta pores-do-sol em vinte e quatro horas davam-lhe certa saudade do abençoado planeta."


Ao menos por lá, não era julgada pelo lugar aonde nasceu. Aonde o comportamento de um vale por todos os outros que vieram do mesmo lugar, a gente nem sempre se sente à vontade para risadas altas, elas podem despertar os dragões, e é com cautela que devemos despertar sentimentos de fúria.

"E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade..."

Estórias sempre me moveram...ouví-las, criá-las, realizá-las. Quis ser a Dorothi da Terra de Oz, aceitei ser a Branca de Neve dos Sete Anoes, e o número sete me persegue até hoje. Aonde vou estar no próximo dia sete? Também quero saber.


"- Tenho também uma flor.
- Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.
- Por que não? É o mais bonito!
- Porque as flores são efêmeras.
- Que quer dizer "efêmera"?
- As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer "efêmera"?
- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós, disse o geógrafo. O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.
- Mas que quer dizer "efêmera"? repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.
- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?
- Sem dúvida."



E no meio disso tudo, mais uma vez no telhado, despida e deitada, eu pensei em você. Em como o seu cheiro faz falta na minha pele, em como a sua voz completaria o meu silêncio, e em como o seu abraço esquentaria o próprio silêncio dessa noite. Mas resolvi ir dormir, ou perderia o meu próprio descansar.



- Adeus, disse ele à flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus, repetiu ele.
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão. Trata de ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.
- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz... Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.
- Mas o vento...
- Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe... Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos. Em seguida acrescentou:
- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa..."
E tendo resolvido não te incomodar, fechei os olhos, sem muito me mexer, para não te despertar.

"E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pronto!

E hoje, pelo primeira vez, eu chorei aqui. Faltava me sentir à vontade, faltava intimidade, faltava coragem. Mas hoje foi uma cachoeira de lágrimas e aquele vazio gritando todo o seu eco de saudade.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Errata


Para quem se deu o trabalho de ler o post anterior, vim fazer algumas correções.

Conferindo no Google ("In Google, we trust!), aí vai:


1. Os homens realmente são de Marte, e as mulheres, de Vênus, segundo o John Gray, autor do livro. Discordo Seu John Gray, mas já não é mais madrugada, eu acordei há pouco tempo, e não estou no ritmo de contestar nada agora. Levanto a bandeirinha branca da paz, e aceito ser de Vênus, com o pezinho lá em Marte. Porquê não? Não é que eu desista fácil, mas acabei de descobrir no Wikipedia (meu parceirão da cultura por vontade própria) que:


" Vênus é a deusa do panteão romano, equivalente a Afrodite no panteão grego. É a deusa do Amor e da Beleza.


O mito do nascimento conta que surgiu de dentro de uma concha de madrepérola, tendo sido gerada pelas espumas (afros, em grego). Em outra versão, é filha de Júpiter e Dione. Era considerada esposa de Vulcano, o deus manco, mas mantinha uma relação adúltera com Marte.

Vênus foi uma das divindades mais veneradas entre os antigos, sobretudo na cidade de Pafos onde templo era admirável. Tinha um olhar vago, e cultuava-se o zanago dos olhos como ideal da beleza feminina. Possuía um carro puxado por cisnes.


Vênus possui muitas formas de representação artística, desde a clássica (greco-romana) até às modernas, passando pela renascentista. É de uma anatomia
divinal, daí considerada pelos antigos gregos e romanos como a deusa do erotismo, da beleza e do amor."

Por coincidência, a foto que encontrei da Deusa Vênus até me lembrou a foto que publiquei da Bjork. E porque eu também sou cultura, vale a pena citar que: "O símbolo do planeta Vênus é uma representação estilizada do símbolo da deusa Vênus: um círculo com uma pequena cruz abaixo, utilizado também para representar o sexo feminino."


Ok, me convenceu.



2. "O meu sangue ferve por você" é de Sidney Magal, e não de Wando, como eu havia pensado. Eu ouvi essa música no trailler do filme "Jean Charles", o qual espero até hoje poder assistir a versão completa.

Segue abaixo o clip da música. Apreciem!





Boa quinta-feira para todos!

Marte, Vênus, Bjork e eu













*

Achei que tivesse cometido um erros em um dos posts anteriores, e fiquei aqui martelando asneiras no meu dia "tããão ocupado" (ironia me cai tão bem!). Já dizia o ditado: "cabeça vazia, casa do diabo!". E a minha ferve! Borbulha! Para se ter uma idéia de como um pensamento idiota convida outro, que convida outro, e que de mãos dadas eles saem descarrilhando uma série de frases moingolóides ladeira abaixo: eu acabei de beber uma taça de vinho (o que favorece o meu lado criativo), comentei que a minha cabeça ferve, e já estou cantarolando: "o meu sangue ferve por vocêêêê!!". Uau! De quem é isso? Wando? Ah não, Ticiana! Tenha paciência! (e me desculpem as jogadoras de calcinhas no palco dele! Era ele que ganhava calcinhas no palco, e as colecionava, não era??). E rir sozinha? Minha especialidade. O ócio criativo anda me cutucando nas madrugadas, não me deixa dormir. Acho que o favorecido vai ser o blog! Mas coitados de vocês que lêem essas baboseiras todas! :D

Mas voltando ao assunto, mulheres são de Marte, homens são de Vênus. Sim? Por um momento cheguei a achar que tivesse me equivocado e que fosse o contrário. Indignada, pensei: "mas eu não quero ser de Vênus! Vênus é frio, é azul e desocupado!! Ninguém vai lá!!! Marte é quente, vermelho, e todos os cientistas do mundo inteligente se interessam a respeito! Aí toca "the scientist" do Coldplay, no meu canal de música que fica ligado sempre que estou em casa. "You don´t know how lovely you are...". Minha frase preferida. E se não sabe é porque eu não disse. E se eu não disse é porque sou de Vênus? Não, me recuso. De Vênus e com a sensibilidade como a que tenho, só se eu fosse gay! E porque eu não disse? Porque eu não FALO? Pausa. Silêncio. Eu imersa no meu ser calado. Eu acostumada com o meu próprio silêncio, que sim, eu sei, incomoda aos outros. Toca Bjork. Mulher. Mas me parece de Vênus, ainda que se disfarce com tanta maquiagem. Fria, da terra dos iglus? Definitivamente de Vênus! Ah, vai-te a Merda, eu sou de Marte! E por protesto, como nas passeatas e rebeliões de cara pintada, pintei eu mesma as unhas: vermelho. Enchi mais uma taça de vinho: vermelho. Passei batom conforme a moda: vermelho. E aí então, me sentindo a mais heroína e mais patriota de todas as cidadães de Marte, burlei as leis da insônia e fui dormir. Rebelde, como todas as outras do planeta vermelho.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Hay que endurecer, pero sin perder la ternura, chica!

Estranho. 13 dias sem chorar.
Em Londres virei uma geleca derretida, uma manteiga, olhos de torneira.
A Espanha está endurecendo esse meu coração que beira os não esperados 26 anos?
Inferno astral, crise da idade, tédio e falta de sensibilidade pro choro?
Estoy na mierda, hein?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Vênus, nem na próxima vida!


Milhões de corações partidos por aí,
e a grande diferença que tenho percebido
é que os fatos traumatizam os homens,
enquanto os mesmos
apenas engrandecem as mulheres.
Ainda bem que eu sou de Marte.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Oh Clock!



"A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa"
(Lenine - Só o que me interessa)
***
Quatro da manhã. Livro fechado, papel de chocolate ao lado. Quarto escuro, luz acesa. Dentro de mim. Luz, holofote, fogos de artifício. Um clarão, tudo acordado aqui dentro, e eu ainda não dormi. Ontem ainda é hoje e insiste em permanecer sendo, mesmo que daqui a pouco amanheça, que o sol (se Deus quiser!) apareça! Insônia. Uma noite, duas, três. Poderia ser por culpa das noites perdidas de um fim de semana que começou na quinta e foi agitado até hoje ao escurecer. Domingo. Eu. na. Espanha. Eu. morando. aqui. Eu. ainda. não. me. sentindo. em. casa. aqui. Ponto. Ponto? Isso não vai mudar? Essa sensação de estar à passeio, de férias, de que essa ainda não é a minha vida? Não gosto dos cem mil pensamentos antes de dormir, não gosto dos cem milhões de planos esperando atrás da cortina a hora de entrar em cena e se tornarem reais. Não gosto de deitar e ficar escutando a minha respiração com o silêncio de fundo, não gosto do tic tac do relógio que eu mesma coloquei na mesinha de cabeceira, me lembrando do tempo que urge, em marteladas precisas, de segundos se transformando em horas numa questão de sessenta minutos inquietantes. Não gosto de ter tanto tempo livre, o meu bom senso vira comparsa do meu superego e juntos eles gritam nos meus ouvidos surdos: " Rédeas, mocinha! Rédeas mais curtas!". E se eu as tivesse, eu me freiaria? Por agora eu só queria não ser tão impaciente, não ter tanta ânsia de possuir tudo exatamente na hora em que quero. A calma de um monge, o espírito zen de qualquer sábio, a benção do sagrado, a certeza de que tudo chegará, se eu fizer a minha parte e souber esperar. E se de quebra eu pudesse já me sentir dona das ruas por aqui, seria um bônus e tanto!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os primeiros dias...



"Today this could be, the greatest day of our lives
Before it all ends, before we run out of time
Stay close to me, stay close to me
Watch the world come alive tonight
Stay close to me..."
**
Madrid amanheceu com o sol reluzindo nos prédios, dando aquele brilho alaranjado aos vidros espelhados, como se fosse uma áurea iluminada. Eram sete da manhã e eu acordei na minha nova vida. Todo início meu, em todas as cidades aonde escolhi viver, foi assim. Meio sozinha, tendo ou não companhia. É o tempo que me dou para andar pelas ruas, ouvir a língua, descobrir o jeito do povo, os caminhos, os cantos por onde vou voltar depois acompanhada. Gosto de escolher por mim mesma, de criar hábitos e preferências, mesmo que um dia eu me vá mais uma vez por aí, e tenha que recomeçar em outro lugar. Engraçado como, quando a gente vê com os próprios olhos, tanto lugar se desmistifica, se torna o lugar ao nosso ponto de vista, entao a gente pinta da cor que quer, e faz dele o que bem quiser. Engraçado também que, mesmo muitas vezes quando estive andando perdida por aí, sempre houveram pessoas que me pararam para perguntar a direção, me pedir informação. Talvez eu não pareça perdida...com todo esse meu ar confiante, mal sabem que, para mim, também é o desconhecido ao meu redor. Eu pintei esse desconhecido novo de laranja, porque é a cor que me lembra essa cidade. Tendenciosa a tal coloração, tenho consumido picolés de tangerina, sucos de laranja, salgadinhos também da mesma cor. Coisa de criança que sempre gostou de pintar. Coisa de adolescente que, toda vaidosa, sempre gostou de combinar. Coisa da mulher que me tornei, que não dispensa sonhar. E por falar em adolescência, na minha eu ouvi muito "How deep is your love", e só associava a banda a essa música, baladinha de novela e dos sonhos românticos da maioria das menininhas da minha idade. Hoje eu acordei na luz laranja do sol entrando na sala, na minha nova vida. E ligando a TV, passou o clip da nova música da mesma banda, o que também combinou demais com meus passos infantis, juvenis, porém sempre tão femininos e cheios de magia ao meu redor. Tudo sempre se combina, tudo sempre se ajeita...

http://www.youtube.com/watch?v=zHzMLGH1Rfs

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Subiu e disse hola pro céu!


Maluca é pouco, eu sou é desvairada. Quando o tédio me invade, eu invado a insanidade. Mas me pergunte, o que eu fiz de errado além de, é claro, ter subido no telhado? Mas não tinha medo de altura, minha filha? Sim, seu moço, sempre tive. Desde quando senti pela primeira vez um lugar muito alto fazer minha mão suar, e aquele abismo, você sabe, a ribançeira, que parecia me chamar. E você foi? Fui nada. Eu lá ia me jogar do quinto andar? Mas o que te deu assim então de repente de subir no teto do prédio? É, penhasco por penhasco, cada um pode até me convidar. Mas sendo idéia minha, e não dele, eu quis foi inventar. Você sabe que ouvi dizer que aqui pelas redondezas, lá por Barcelona, fazem um tal de top less na praia? Madrid não poderia ficar por menos, então eu quis inovar. No telhado não seria autêntico? Seria original meu senhor, com essa haverá de concordar! Compreenda, sou nova na cidade, ainda estou com tempo livre para piruetar! Desce daí, menina! Não desço! Porque se eu saio não sei se tenho coragem de voltar! É alto, daqui o céu me contempla, o sol até me cumprimenta! Aí quando ouvi o barulho da sirene de polícia até achei que fosse para me buscar... ¿ Mas se todo mundo tem feito de tudo nesse mundo, porque eu não posso me bronzear?


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

There she goes again...


"Hoje é um novo dia
de um novo tempo
que começou.
Todos nossos sonhos
serão verdade
o futuro já começou!"

*


Tudo pronto. Foi devolvido o flat, cumprimentos, abraços, aperto de mão. Mala, ônibus, estação. Despedida, passagem, avião. Nada e nem ninguém poderia deter tamanha determinação. Foi só resolver que passou a enfermidade, passou a pressa e só ficou a saudade. O coração em frangalhos, carregando em seu corpo aparentemente frágil, nada mais, nada menos, dos que os quarenta quilos permitidos. Carregava uma força de tufão, coragem e sentimentos em furacão. Pela janela do ônibus viu a chuva cair no momento em que o motor acelerou. Acelerou lá dentro também uma escola de samba de paticunduns intermináveis. As lágrimas escorriam em seu rosto tanto quanto as gotas de chuva escorriam no vidro. Ela chorava de um lado da janela e a cidade chorava do outro. Cinza, fosca, opaca, nostálgica, melancôlica. Vinha experimentando fechar portas há exatos sete meses. Vivia aquela agonia de não conseguir andar sem olhar pra trás. Sabe quando vc vai fechar a porta e pensa: "será que não estou esquecendo nada aqui?", aí você entra de novo, olha debaixo da cama, atrás do armário, olha o banheiro...percebe que tudo já está na mala, e que de nada adianta adiar. Então pensa: "vai...anda!", e aí você fala pra você mesma: "bora! bola pra frente, seu tempo aqui já acabou!", e vai...

Afinal, se não fosse exagerada, dramática e intensa, não seriam as minhas despedidas. Sabia disso, então se deu o direito de chorar o rio Tâmisa inteiro de lágrimas, até quando achou que poderia. Quis parar a chuva, quis parar as lágrimas. Chegando no aeroporto, o frio na barriga. Check in, duty free, Victoria`s Secrets, passeio pelos saguoes. Tocava uma trilha sonora simpática, sabe Deus aonde, mas ela ouvia. Parecia personalizada, feita para ela, pois tocavam as músicas que deram som aos seus momentos. E de repente tocou: "There she goes...there she goes again...", e ela foi...again and again and again...E se a cada chegada, for recebida como foi por aqui, "please don´t stop the rain!".

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Next??


"Dono do mundo em mim como de terras que não posso trazer comigo."
O livro do Desassossego - Fernando Pessoa

*

Que fique então o gostinho dessa manhã de um dia novo, aonde o nosso próprio gosto se combina por demais. Que beijos e abraços de despedida durem até o próximo encontro, e que o meu coração comporte, ainda com toda a sua dor de partida, todos os momentos que ganhou nessa vida. E a cada vôo que eu pego, uma nova vida...tudo novo, de novo! Espanha, aí vou eu.