domingo, 28 de fevereiro de 2010

You know i'm such a fool for you...


"Ai, se papai me pega agora abrindo o último botão
Será que ele me leva embora ou não?
Será que fica enfurecido, será que vai me dar razão?
Chorar o seu tempo vivido em vão
Será que ele me trata à tapa e me sapeca um pescoção?
Ou abre um cabaré na Lapa e aí me contrata como atração?
Será que me põe de castigo será que ele me estende a mão?"

Chico Buarque


Se hoje ele não estivesse ausente por completos 8 anos, com certeza, vinha me buscar pela orelha, me vestia de princesa, me dava um carão, me levava pra perto, me tirava da estação. E o que mais? O que mais você faria? Me diga, porque eu preciso saber.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

eu vim da Bahia








"O mundo é o mar. Maré de lembranças. Lembranças de tantas voltas que o mundo dá..."

*

Sexta-feira sempre foi o dia mais esperado da semana, desde que eu saia da aula as 5:30 da tarde e meu pai já estava pontualmente esperando na porta da escola e nos levava pra casa, sempre dando uma passadinha na baiana de acarajé. Sábado era dia de acordar com as músicas de minha mãe tocando alto pela casa, era dia de supermercado e guloseimas, era dia de comprar roupa nova, de brigar pela cor preferida com as irmãs, e de ir dormir na casa das amigas.
Hoje eu não vou comer acarajé, meu pai não vai me buscar na aula, nem aula eu terei. Amanhã eu não vou acordar com o MPB de minha mãe e nem vou encontrar minhas irmãs, seja para brigar ou para cair na piscina de Villas. Mas hoje eu vou dormir na casa das amigas, e amanhã eu vou acordar e me lembrar que há 8 anos atrás tudo amanheceu diferente.

Hoje é dia de saudade!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Por minha mãe


As pessoas mais corajosas, somente elas conseguem amar.
São as pessoas corajosas que amam e se entregam de tal forma que até perdem o senso de ridículo porque é ridículo e lindo ao mesmo tempo...amar, e a gente ri de ser assim porque ama o diferente, ama o descontente, ama aquele que nunca, mas nunca mesmo, pensou um dia em amar e ama e ama e ama sem ter medidas para explicar ou para não se denunciar...e fatalmente sonha, mas sonhar é bom...Porque se existe uma realidade e ela é boa...Pode ter certeza...ela só existe porque alguém sonhou.

O amor é alvo de poetas e escritores, de terapeutas e de conselheiros matrimoniais ...de assassinos psicopatas que matam em nome do amor, de gente que perverte o amor em ódio e de tantos outros que nem saberia aqui contar! Essa corda esticada que uns defendem e outros puxam para derrubar é um amor cansado, cansado das desculpas e justificativas das pessos que não o têm... por simplesmente não saberem como amar.
Se perdem em argumentos, se recriminam pela perda da "liberdade" e se fecham pelo medo de suas consequências, afinal, não há garantias...Só há a pura constatação de uma capacidade humana em se doar e se existem consequências...que elas sejam fortalecedoras apesar de nos ameaçarem.

Se alguém acredita que o amor verdadeiro existe, certamente acredita em si mesmo. Acredita na sua força autoregeneradora como faz um molusco que ao perder uma parte de si se reconstroi. E segue...
Alguns sofrem porque não encontraram o amor de suas vidas, outros porque encontraram e perderam, mas uns sofrem ainda mais...porque se sentem incapazes de amar...Ou de serem amados, porque estabelecem certos padrões para quem vai os amar...Precisa ser assim, fazer assado, e cumprir um ritual que convenhamos... É assustador!
O amor corre solto, independente dos amantes, ele traça suas próprias leis e dita suas próprias convicções...não se submete ao orgulho nem a dor, é autoimune, é mais forte que nós mesmos e tão imperativo que se deita e acorda ao nosso lado, mesmos que estejamos distantes de quem amamos...

Por tudo isso deixo Nana Caymi com você...e das poesias a mais bela...Porque, eu não preciso explicar!

(http://www.youtube.com/watch?v=NRBXYBADWqg)

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
A cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que eu vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida."



Yanis Fontal
Minha mãe.

and i will sing you a lullaby...


"Once there was a way, to get back homeward.
Once there was a way, to get back home.
Sleep pretty darling, do not cry.
And I will sing a lullaby.

Boy, you gonna carry that weight
Carry that weight a long time

Oh yeah, all right
Are you going to be in my dreams
Tonight?

And in the end
The love you take
Is equal to the love that you make."
(Golden Slumbers - The Beatles)



*

Eu me lembro. Do abraço que doeu, do choro que acompanhou, dos dois eu e você, dos dois minutos que nunca passaram, do amor que nunca passou. Uma bruxa contou a uma amiga que contou a mim; amor não é paixão, amor vem do umbigo, é uterino, é inquilino. Paixão, nem sempre fica pra sempre no coração. Eu já sabia, mas engraçado ela ter me dito isso hoje, quando vocâ chorou "de frente" pra mim. A tecnologia anda sendo capaz de trazer choro de um continente a outro em tempo real, mas o tempo que você lembrou foi aquele que já se foi e que não volta mais. "Sempre que te vejo, me lembro porque me apaixonei por você". Eu também lembro exatamente porque me apaixonei por você, sem nem precisar te ver. E me lembro o porque do choro em conjunto naquela data exata. Lembro de cada último minuto, de cada mudança nesse sentimento que seguiu, e lembro também, de tempos em tempos, de te responder se ando bem por aqui, e de querer saber se voce anda bem por aí. Às vezes existem oceanos, telas de computador, adiamentos, compromissos cada um com os seus, mas sempre vai existir também aquele carinho eterno de quem te ama desde o umbigo e que te quer muito bem.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

...

"Dorme minha pequena
Não vale a pena despertar
Eu vou sair
Por aí afora
Atrás da aurora
Mais serena"

Chico Buarque

*


...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

simples?


Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.


[Clarice Lispector - A paixão segundo G.H]


Sinto falta.

Thank you.


"My tea's gone cold, I'm wondering why I
Got out of bed at all
The morning rain clouds up my window,
And I can't see at all
And even if I could it'd all be gray
But your picture on my wall
It reminds me that it's not so bad
It's not so bad

I drank too much last night, got bills to pay
My head just feels in pain
I missed the bus and there'll be hell today
I'm late for work again
And even if I'm there, they'll all imply
That I might not last the day
And then you call me and it's not so bad
It's not so bad

And I want to thank you
For giving me the best day of my life
Oh, just to be with you
Is like having the best day of my life..."


*

Perfume. Roupa. Aula. Ponto de ônibus. Você. Reserva em restaurante. Comida tailandesa. Vinho rosê. Tudo que já é, e tudo que ainda está pra acontecer...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Hein?


"Quando já não tinha espaço pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha sem ser tua

Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranqüila daqui
Lavar os degraus, os sonhos e as calçadas

E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver

Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca

E mesmo que em ti me perca
Nunca mais serei aquela
Que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela"


**



Faltando pouco para completar um ano fora, me peguei com saudade de ouvir musica nacional. Nacional nossa, minha, dai de voces. Por falta de sorte, hoje eh quarta-feira de cinzas no Brasil, e principalmente em Salvador, o que se escuta eh a disputa pela musica mais tocada no carnaval, e somente por ai ja se pode imaginar que a selecao das "mais mais" nao sao letras que cheguem sequer aos pes de um Chico Buarque, nada de MPB ou Bossa Nova, ou nem mesmo dos pops mais moderninhos. Pelo que eu ouvi, os hits do momento sao o "Rebolation" do Parangole, e o "Vale Night" do Asa de Aguia, e antes mesmo que eu pudesse descobrir - assustada, eu diria- qual seria a "bam bam bam" do Chiclete com Banana, desisti de continuar conversando sobre isso. Sim, eu sinto saudades do meu pais. Muita saudade da alegria, das praias, comidas, do calor, do povo, de coisas que nunca existirao em nenhum outro lugar. A minha infancia ficou la, o amor maior que existe em mim esta la, em cada uma das minhas irmas, na minha mae, vo, tias, e ate no cachorro e na empregada. O Carnaval, sem duvidas, eh uma festa maravilhosa, que eu sempre gostei demais. Mas hoje, quando digitei "Rebolation" e "Vale Night" no youtube, nao vou mentir que me assustei. Ainda nao sei ao certo exatamente com o que. Se foi com a pobre producao musical, ou se foi por saber que, se eu estivesse la, iria estar achando o maximo tambem. E no final das contas, o que mais me serviu como uma chacoalhada, foi o fato de ter visto aquilo e ter pensado: "meu deus, tem TANTO tempo que eu nao sei o que eh isso! Parece TAO longe de mim", e nao tem nem um ano que eu sai de casa! Fiquei surpresa como dimensoes de tempo sao variaveis, como em UM ANO tudo muda TANTO, muito mais aqui dentro do que la fora. Afinal, pelo visto, tudo la continua realmente igualzinho. O mesmo axe e pagode carnavalesco, a mesma aflicao pelo verao e suas perdicoes, o mesmo fascinio pelo culto ao corpo, cortes de abadas, maquiagens, purpurinas e falta de compromisso com o que acontece antes do Carnaval, porque, obviamente, ate hoje que eh a triste quarta-feira de cinzas, nada se realiza pra valer. Todos os planos, promessas pros santos, dietas, namoros, trabalhos e estudos, ou seja la mais o que for, so comecam depois do carnaval. E enquanto todo esse baticum estava rolando por la, eu estava aqui envolta em jaquetas, moletons, casacos...longe dos 36 graus que indicavam estar fazendo no Rio de Janeiro, segundo o jornalzinho do metro londrino. E falando assim, pode ate parecer que eu nao estava tao feliz quanto os nao sei quantos milhoes de folioes saltitantes pelas ruas de Salvador...mas sinceramente, eu diria que estou ainda mais feliz do que isso, e que hoje, quarta-feira de cinzas, nao passou de mais um dia cinza que esta esperando ansiosamente pelo verao europeu, mas no entanto, aqui por dentro tem alguem multi-color, que nao precisa de trio eletrico pra fazer da vida o seu proprio carnaval. Eu adoraria um trio eletrico turbinado de frente pro Big Ben, atravessando em frente a London Eye. Adoraria que o calor chegasse amanha, que os biquinis das europeias nao fossem tao grandes e eu nao precisasse encomendar biquini por amigos de amigos que vao vir do Brasil. Veja bem, nao vamos ser hipocritas...se eu estiver no Brasil no ano que vem, serei a mais serelepe do carnaval baiano, tenham certeza. Mas por enquanto...enquanto me sinto tao de fora, de longe, distante, me sinto tambem no direito de avaliar com olhos criticos o que tambem ja fez parte do que eu sou. Engracado como as vezes eh preciso tao pouco para percebermos o quanto crescemos pelo caminho...

Pra completar, pesquisei num site de musicas quais seriam os artitas e as suas musicas mais tocadas do momento (ignorando os hits carnavalescos), e descobri essa pessoa ai: Maria Gadu. Simples e serena. Recomendo. Faz bem limpar os ouvidos com boa musica de vez em quando!

Bem, e ja que faltam por aqui as melodias que me soam familiares, ja que falta a propria familia que me soa como a mim mesma, e ja que faltam aqueles cheiros, gostos e abracos antigos, nos bracos de pessoas antigas na minha vida...hoje tambem vao faltar os acentos no texto, pra combinar, e pela falta do teclado com aquele bando de tracinho familiar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Follow me



"I undress my mind and dare you to follow..."

*

Ando olhando você por dentro, através do visível, através de redemoinhos, ventanias e travessias. Ando olhando e decifrando, cada verbo e cada escolha sua. E se é em você que encontro as vontades mais teimosas, as emoções mais trabalhosas, e os desejos mais insistentes, eu apenas me convenço -mais uma vez- de que, contra tudo que quer existir, não há coração que não possa comandar. Daí fica óbvio o porque das asas, e mais ainda, o porque de tudo que elas buscam alcançar.

Cause some got time, while i got freedom.


Mas existe também a ternura triste de uma manhã qualquer, que resolva acordar vazia, porque esqueceu que tudo que a preenche está tão perto que está quase longe demais.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Take a seat, Take your life...




They love to tell you "stay inside the lines"
but something's better on the other side
and when I stand on these tables before you
you will know what all this time was for.

--


Como diriam os mais antigos, (e de antiga ela só tinha a alma, vivida, mesmo quando relaxada), saiu obstinada a "fazer e acontecer". Comprou pincel e tinta tonel, fez força no braço e levantou até os ombros. Carregou ladeira acima, sentindo o peso te pinicar as costas, o suor escorrer na testa, e a perna cansar Funil acima. Tinha em mente uma pintura bem sua, ninguém mais conseguia visualizá-la tão bem, o que te causava um certo cansaço em ter que explicar. No seu íntimo, não entendia muito bem o porque dos outros não enxergarem aquilo tão claro quanto ela, e lutava contra as limitações do atraso e do que quer que fosse que aparecesse em seu caminho para te levar correnteza abaixo. Sabe peixe que nada contra a força da água destinado a um caminho contrário? Era ela, porém sendo gente. Quando fechava os olhos, via a pintura lá, enorme, colorida, dominada de vermelhos. Se pudesse, pintava o resto da cidade no mesmo tom, e mergulharia ela mesma num balde de vermelhos, para não haver dúvida, pra vestir a camisa, pra não haver chance de ser confundida com nenhuma outra coloração. Ela era agora somente feita de vermelhos. Qualquer bandeira branca levantada, impestiava-se de vermelhos, qualquer paz em seu rosto, acompanhava o rubor nas bochechas, e até qualquer paixão te fazia corar. Em qualquer verde que pisasse, deixava pegadas avermelhadas, vivas, fortes. Em pouco tempo, por obra do seu esforço ou por mágica do seu destino, tudo ao seu redor, estaria apenas em tom diverso e misturado, um tanto quanto avermelhado. Vibrante, faiscante, dominante.