terça-feira, 29 de junho de 2010

Mundo subterrâneo das idéias







"Minha cabeça de noite batendo panelas
provavelmente não deixa a cidade dormir!"

(Chico Buarque - Pelas tabelas)

*


Desço as pressas as escadas do metrô, tempo curto pra poder chegar a tempo, mente agitada, inquieta, confusa. Longas conversas solitárias com as outras partes de mim, cada qual com a sua opnião, cada qual com a sua paixão, cada uma tentando defender o seu lado, seu ponto de vista, dar o seu grito de razão. Do lado de fora; vento, poeira, fumaça, e algumas lâmpadas se acendendo pelos corredores, pelas escadas, ajuda de corrimão, placa de atalho, espelho de direção. Caminho a passos largos pelas ruas que já poderia ir de olhos fechados, e me deparo com eles, os sinais, a todo instante. Outdoor falante, aquele que interage, que você não consegue não ler as linhas, assistir a propaganda, engulir a mensagem. Mas são tantas mensagens, elas as vezes me confundem pra chuchu! Não porque não as absorvo, e sim porque as absorvo por demais. São 'não sei quantos' batimentos de idéias por minuto, movimentos rápidos de olhos enquanto durmo acordada, viajando no tempo das idéias, no campo do pensamento, enquanto tento me situar nesse mundinho real de quinta categoria. Me recuso, faço bico, bato a porta, dou as costas. Uma batalha. O de fora contra o de dentro, e eu no meio de mediadora das idéias (algum extrato positivo haveria de sair de um curso de Psicologia inacabado, eu sei). Ei, volta! Acorda! Em 1 minuto chega o seu trem! No metrô hoje: venda de orgãos humanos, legaliza-se? Prisioneiros devem ter o direito de votar? Patrick, o otimista incurável - ajude Patrick a pintar 100 quadros enquanto ele ainda pode! Novo i pod, novo i phone, novo i pad. I pad??? Google. Do something today! What would you stand for? LIFE. IT'S FULL OF POSSIBILITIES. I think i'm being watched. Ops! Perfection, my friend. That's it. A vida é cheia de possibilidades. Come a little closer!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Alma cheia



'Não quero perder as minhas asas,
por isso não vou crescer - apenas me desenrolar.'


[Lya Luft]

*

Como poderia ser diferente, vida minha? Como eu te deixaria encolher-se por entre porões e salões vazios? Como não te encorajaria a jogar-se em desafios, a unir-se a outros em arquibancadas, a subir no palco e dar o seu próprio show? Como não te faria subir montanhas? Como não te deixaria experimentar o sabor das nuvens? Como não te deixaria criar seu caminho por entre as estrelas? Como não te ofereceria tamanha liberdade, imensas dúvidas e grandes devaneios? Como não te proporcionaria sonhos, e como, me diga como, eu te deixaria passar em páginas brancas, em rabiscos desordenados, textos finais mal acabados? Não, eu não poderia! Veio a mim essa alma afoita, e veio a mim essa completa falta de saciedade. Eu não me contento, e não vou te deixar ser pouco, ser medíocre, ser o que esperam. Vou dar a você os maiores motivos, e vou deixar em você as melhores marcas. Uma vida cheia de alma, uma alma cheia de vida.

ah, o verão...


"I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say
While my eyes go looking for flying saucers in the sky"

London, London [ Caetano Veloso]


*

Então é isso, fica combinado então. Eu não me deixo seduzir pelos dias de verão como se fossem pra me convencer a ficar, eu apenas os aceito como um presente por ter suportado o inverno com bravura, por ter sido uma boa garota na maior parte dos dias, e por ter vindo até aqui como quem avança estacas e sobe escadas com obstinação, mas também com a leveza de estar fazendo por querer, pelo prazer de ser quem é, e de estar aonde está. (Sim, é mais um post sobre Londres, "pra variar"! :)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Agridoce





"... uma solidão de artista e um ar sensato de cientista.[...] tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."

Caio F. Abreu

*

Olho pro alto e tento ver resquícios de passagem sua. Nenhum pedaço de roupa rasgada presa na estaca de madeira por onde você poderia ter entrado correndo. Nenhuma pegada na entrada de barro pisado, nem o seu cheiro - aquele que costumava tomar conta da minha paz no momento em que você entrava - nem ele pairava no ar. Fiquei preocupada, pra não dizer que fiquei triste. De fato, havia me acostumado a perder. Nada durava nas minhas mãos. Amores não chegavam a ser amados. Aparelhos eletrônicos se quebravam, ou simplesmente, eram perdidos, esquecidos no banco da escola das crianças, molhados de vinho derramado na bolsa, caídos no chão do ônibus costumeiro. De costume mesmo era perder, e espantoso mesmo, era já não se importar. Seria então por desapego ou apenas por desinteresse? Já não fazia questão de todas as malas que carregava, viagem após viagem. Logo enviaria tudo de navio pro inferno, caso o inferno tivesse mar. Ou me pouparia de esforços - afinal, carregar tudo aquilo era uma tortura aos meus pobres músculos fracos - e largaria tudo na loja de caridade. Vestiria apenas aquela manta laranja dos monges, e iria peregrinar em cidades perdidas, conectada com a natureza, os céus e Deus. Duraria menos de um dia, eu sei. Duraria o tempo de chegar lá e já querer voltar. Mas teria sido bom conviver com criaturas tão calmas e verdadeiramente desapegadas do materialismo banal. E entre tantos pensamentos delirantes, sigo andando pela rua, entrando e saindo de lojas sem nem mesmo prestar muita atenção no que estou vendo, perdida em meus desejos megalomaníacos de ir a Índia, de visitar o Taj Mahal, de andar de elefante e de comer com as mãos...E de repente, saindo da maior loja de souvenirs britânicos de Picadilly, dou de cara com monges fazendo compras. Não controlei o riso, e se eu não tivesse quebrado a minha quarta máquina fotográfica, teria tirado uma foto pra mandar pra minha mãe - sabe-se lá porque, ela vive falando de monges. Senti uma identificação imediata, e se não tivesse com pressa, teria feito amizade. Perguntaria como é isso de ser monge moderninho, e me ofereceria pra acrescentar paetês nas batas laranjas. Mas me recolhi ao meu relógio que me mostrava o horário apertado, o tempo ficando curto e minhas horas vagas acabando, e entrei no próximo metrô com a sensação de que o desapego, de fato, não existe. Seja ele do que for.

Fotos: Minha passagem pelo Templo dos monges Hare Krishna em algum canto da Inglaterra. Casa doada pelo George Harrison, guitarrista dos Beatles, para os monges. Talvez George Harrison soubesse do que se trata o tal desapego.

À carioquice minha


Eu vou sim, vou te encontrar no Rio de Janeiro. Você sabe, eu precisarei desse tipo de passeio de fuga, pra sair um pouco do previsível ar que me espera. Pra escapar do comum e revirar os olhos com as paisagens cariocas, e de quebra, com a cor do carioca. Pra alegrar meu espírito andante, e pra continuar com a sensação de ter asas, e de poder revirar rotas sempre que quiser. Sempre que o peito esquentar por coisa nova, por vontade de voar. Espero ansiosa pelo Biscoito Globo nas areias do posto 9, e por conversas intermináveis sobre tudo que pudermos inventar. Vai ser um presente entardecer no conforto do contorno do sol sobre as montanhas, e voltar pra casa vai ser, mais uma vez, um recomeçar de novo. Ansiando pelo novo, eu vivo. De sangue antigo, de força conquistada, de paixão encravada. Mas sempre pelo novo, quantas novas vezes for preciso.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Feliz.cidade


"A felicidade tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue suas flores a quem cuidar delas e comece. Ou recomece. Nenhuma viagem é definitiva."

José Saramago

*

E assim foi.

Próxima parada: Barcelona.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

For the last time, babe!


Não sou a sua melhor lembrança e nem fui o seu mais doce adeus. As marcas que te deixei ainda te lembram o quanto pareci volúvel, a pessoa errada na sua hora certa. Minhas palavras não te convencem, meus atos foram o que ficaram e hoje o seu olhar pra mim é vago, eu não me vejo sorrindo nele. Eu mal me vejo na sua pupila. E no entanto, eu ainda brilho, e ainda trago os mesmos encantos que um dia te envolveram, aos quais você parece ter se vacinado, porque talvez te pareceram apenas uma armadilha incerta. Não fui o seu porto seguro, não supri a sua busca, não soube te dizer o quanto você era, ainda é, importante. O quanto eu me importei quando você se foi, o quanto me importo agora que se vá novamente. Mas você me é uma doce lembrança, das mais doces que eu poderia guardar. E eu prefiro ter comigo aquele instante, do que estar fosca no seu olhar. Boa sorte. Adeus.

Seguro


"Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom
Daqui não
Eu vivo a vida na ilusão
Entre o chão e os ares
Vou sonhando em outros ares, vou
Fingindo ser o que eu já sou
Fingindo ser o que já sou
Mesmo sem me libertar eu vou

É Deus, parece que vai ser nós dois até o final
Eu vou ver o jogo se realizar de um lugar seguro

De que vale ser aqui
De que vale ser aqui
Onde a vida é de sonhar?
Liberdade..."

(Marcelo Camelo - Liberdade)


**

Já saberia sim, que minhas palavras cutucariam teus pensamentos, e que, tomados por medo, eles se entregariam a mim. Saberia sim, que por dentro haveriam perguntas, que a dúvida te faria quase recuar, e que por fim seriamos assim, metade o sim, metade de você vindo a mim. Saberia sim, que teria compaixão por seus dilemas, que tomaria para mim seus próprios problemas, que domaria meu orgulho para te encontrar. E já saberia sim, que por certo fosse o encontro, mais certa ainda seria a entrega, nessa antiga arte de se desencontrar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Tardezinha


Viveria dias assim, por decisão própria. Sem muito, com aquela sensação boa, aquilo que te bastava e que era tão calmo. O sol era um presente, o morno te acolhia e te inspirava, te trazia versos fluindo em escrita onipresente. Era tão simples ser feliz! Era um conforto ser quem era, se assumir quem era, e dar as costas ao que te criticava, ao que te pinicava como um corte na alma. Sentia-se leve e sentia-se sem promessas nos bolsos, e isso te tornava ainda mais leve. Sentia-se acompanhada por um aroma de flor, uma coisa assim suave que sabe-se lá como, a tornava mais serena, menos misturada com tanto barulho que vem lá de fora. Ao certo, nesse momento, nem sabia o que vinha lá de fora, quando aqui dentro havia tanta paz sem pressa de acabar.