sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O que é que a baiana tem?




Joga uma pitada de sol no tabuleiro da baiana e você descobre do que ela é capaz! Toca um tambor, ouve um batuque, assiste um requebrado, come um dendê, se deita sobre as areias, mergulha nesse mar, e você vai ver...do que a baiana é capaz! Não podia ter ficado escondida, essa terra perdida, não podia deixar de sambar. Agora vem e aplaude, porque não é sempre que se vê tamanha alegria num só lugar.



* A Bahia tem tempero, tem cor e tem magia, mas eu preciso que o sol apareça pra iluminar e me fazer enxergar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ausente


"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa?"
[Lenine - É o que me interessa]


*

Eram dias de não saber. Não saber quando passaria, ou melhor, quando a alma voltaria, porque ouviu dizer que ela viria mais tarde, chegaria com calma, atrasada, e se assentaria no corpo doente de sua ausência, não era a toa que estava de cama. As coisas, elas não faziam sentido, em sua mente e nem nos seus instintos. A chave de casa não abriu a sua fechadura, as gavetas não lhe cabiam de serem lembradas, aonde guardava? Aonde encontrava? Os dias lhe passavam lentamente, numa angústia de mal passar, era doído não saber quando passaria, ou melhor, quando ela voltaria, a alma atrasada que não quis voltar. Uma montoeira de remédios se acomodavam no seu criado mudo, e ainda mais muda ela sentia a vida passar com gosto de xarope de cabeceira. Longos silêncios ardidos de febre, embora fria, estava quente. O sol, em auge de galanteios, a convidara a voltar, e agora era difícil suportar o desencontro, já que havia sido traída por seus encantos, que a atrairam, e quando veio; que enorme desencontro! Lágrimas corriam pela janela, porque lá fora também não faziam bons dias. Nada estava bom. Tudo era não saber e isso te matava pouco a pouco, te tirava brilho e a mágica de acreditar. Pobre passarinho na gaiola, tão apático e sem canto. Sem cores no bico, nas penas, no ar.

sábado, 14 de agosto de 2010

do tempo





E porque me perguntou eu te digo que tem sido assim, um tanto estranho estar de volta pra casa. Tenho conseguido me sentir sozinha entre mil pessoas e quando penso em contar, tenho a leve impressão de que não seria compreendida. Como se meu mundo interno fosse um código de barras pra essas pessoas. Como se eu fosse um quadro abstrato daqueles do Tate Museum, que as pessoas olham os rabiscos vermelhos e não entendem o que leva um artista famoso a pintar um quadro gigante apenas com pinceladas de tinta vermelha. Arte Moderna, talvez eu seja arte moderna. Mas é bem assim que eu estou, e é bem vermelha que tenho sido desde que dei maior importância a esse sangue quente e ansioso correndo em meu peito. Estar de volta provoca dor física. Sinto um vazio daí...um espaço que não se preenche com nenhuma tentativa de substituição, um espaço de Londres que ficou e não se doa, não se rende, não se empresta e nem se esquece! E vou te dizer: isso dói! Já é tarde, eu acabei de voltar de uma festa. Tudo esta normal, mas eu não gosto dos normais, não gosto de comuns, de previsíveis e de tudo certo demais. Me dá falta de ar! Minha boca fica seca e com a voz já rouca eu tento gritar: tenho sede de novo! De novo, entende??? E se as pessoas parecem de plástico, e se seus mundos não falam a minha língua, e se eu não caibo mais nesse espaço apertado, que tipo de vida minha alma já planeja pra próxima fuga? Por enquanto o que me parece é que saí da máquina do tempo depois de uma chacoalhada, pousei de outra galáxia e estou perdida nesse antigo planeta. Se tem salvação, eu sei não.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

janela do mundo moinho


"Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés."




*

Cazuza cantando assim baixinho no meu ouvido.
E eu gritando assim pro mundo que dele eu não largo.
Que ele me seduziu, me hipnotizou, puxou pela mão,
me arrastou pelos becos, me misturou em multidões...
e então agora que me tolere, me aguente, que suporte meus delirios
alias, que ainda mais, me surpreenda em cada troca de vida,
em cada troca de esquina
em cada troca de tempo...
Encomendo magia e não abro mão das cores
do desconhecido
e do inesperado.
Grata
A viajante
(Porque quando nao acontece fisicamente, tende a acontecer mentalmente por demais. Na verdade, acho que acontece de qualquer forma.)

ainda aqui


Ainda estou aqui na nossa cidade, aonde vocês já não estão, aonde sempre estaremos, em pedaços de mosaico, por essas ruas encantadas e cheias das nossas almas andando pelos cantos daqui. Nao é apenas o que levamos que traduz a importância de algo, é também o que deixamos pra trás, e prevendo a dor da perda, passeio em frente aos lugares por onde estivemos, tentando encontrar um pouco do que foi nosso pra poder salvar no peito, na corrente de lembranças, no pensamento de saudade que um dia vai vir visitar. E ainda posso escutar nossas risadas e sentir que a cadeira na qual você sentou ainda está quente, e eu reconheço que veio do seu corpo, porque era esse mesmo quente que esquentava meus momentos em que o frio espetava os ossos. Aquele morninho de você ainda está nos abraços que demos, e aquele riso solto ainda está nas piadas que contamos, ainda posso lembrar. E com o tempo, o que deixará de ser lembrança pra ser criação da minha mente? E se eu chegar a me perguntar o que de fato aconteceu ou o que já foi minha criatividade que inventou pra dar brilho nas nossas histórias? Dizem que essa é uma grande função da nossa mente criativa, dar graça ao que queremos que tenha graça, preenchendo de beleza os momentos na memória. Antes que aconteça, quero registrar aqui, pro caso de que um dia eu esqueça, que foi tudo lindo em proporções exageradas sim, e que se um dia parecer que estou por aí contando estórias tal qual um Forrest Gump, que seja dito agora: foi tudo pra valer, até quando houve caos, houve poesia. E até quando houveram vazios, houve ternura.