quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dia desses



Eu toco essa mágica flutuante, mergulho na alegria ofuscante, e aproveito os dias de plenitude, os encaixes que me ocorrem, as faltas de rima, de linguagem apropriada, de metáforas inalcançadas. O que me alcanca hoje é bonito, é majestoso, é felicidade...e para ela, abro a porta arrepiada, dou a mão e mostro meus quartos, meus raios de luz, meus gestos desnudos, meu abraço completo. Enquanto tudo é gesto, olhares e toques. Enquanto tudo é surpresa, presente e futuro.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

27 primaveras


E na completude daquela manhã vazia, amanhecia a serpentina desbotada. Havia saracutiado pelos salões e conhecia o carnaval, o canto de trombones, também o canto de cigarras. Cantaria um dia, brilharia em palco, mas não naquela manhã. Amanhecia preocupada, com ímpetos de formiga que junta comida pro inverno. Não havia se preparado pro inverno. Havia cantado todo o verão, tal qual a cigarra, e havia sonhado com o perfume da floresta, experimentado o frescor de suas folhas, o rubor de suas ofertas. Estava ali por inteira. Nas maçãs pálidas, mas talvez um pouco coradas por sol, nas madeixas emboladas, no traço fino e cheio de seus lábios, no olhar calmo de uma manhã mais velha. Estava ali. Em suavidade nos gestos, e com mais idade na face. Era a vigésima sétima primavera de quase verão que ela vivia. E sem mais delongas, aproveitaria o resto do dia. E sem mais atrasos, o resto da vida.