sábado, 18 de junho de 2011
Chão de giz
"Espalho coisas
sobre o chão de giz
Há meros devaneios tolos
a me torturar
Fotografias recortadas
em jornais de folhas
amiúde
Eu vou te jogar
num pano de guardar confetes
Espalho balas de canhão
é inútil
pois existe um grão vizir..."
quarta-feira, 15 de junho de 2011
com graça
terça-feira, 14 de junho de 2011
Lamour!
"To see a world in a grain of sand and heaven in a wild flower, hold infinity in the palm of your hand, and eternity in an hour."
(Poema no metrô de Londres, ou se você preferir: pegadas, ou pistas, de uma raposa)
*
Saiu da liquidação na Oxford Circus sem nenhuma sacola, embora tivesse subido as escadas do metrô decidida a se afogar num mar de cifras baratas - ao menos assim se distraía daquele conflito fixo chamado retorno. Já tinha acordado mais cedo que de costume, num ímpeto de vida nova já tinha trocado a antiga senha da caixa de e-mails (HappinessHitHer, ThailandDream, missao2010,NaoSeiSeVouOuSeFico - Sabe lá de onde tirava tanta criatividade, mas haviam te dito que a palavra tem força, que fosse utilizada a seu favor sempre que fosse necessária), e já tinha feito uma arrumação completa no quarto. Vivia arrumando e re-arrumando as malas, assim se sentia como se estivesse de fato, se preparando para a partida. E vivia pensando como ia transformar quatro mala em duas, e como ia transformar pensamentos mudos em atitudes gritantes (ou, no mínimo, em choro). Conseguia prever a visão da cidade pela janela do avião, conseguia visualizar as pessoas esperando no desembarque, o caminho de árvores de bambu do aeroporto pra casa, e a vista da varanda do seu apartamento. Fim. A partir daí vinha um branco, uma lacuna, um vazio de imprevisível, de NOVO e de ANTIGO ao mesmo tempo. E isso inquietava. Remédio pra inquietação é presença amistosa, daquelas, as que a faziam mais mansa, as que controlavam seu surto e a tornavam mais serena, as amigas.
- Sabe, eu sei que não tem nada a ver, mas tem dias que ando lembrando de uma frase que já li num texto de Martha: "o amor, essa raposa".
Ahh, o amor...misterioso amor! Autor das mais excêntricas façanhas, movedor de montanhas, dono de corações em êxtase, em estado de graça, dono de mágica, de jardins floridos, esculturas lapidadas, noites estreladas.
- Ok, menos.
Mas ele perseguia. Na vitrine de sua loja favorita: uma camiseta rosa pink com letras brilhosas piscavam praticamente como um letreiro: "I´m always in love!". Deve ser muito corajoso aquele que vive de coração entregue, rendido ao amor e vítima da paixão - pensou. Invejou os que conseguem. Lamentou não ser um deles.
Continuando a passos rápidos, o tema perseguia com ainda mais pressa. Na camisa de uma moça no metrô: "Love is my sin" (O amor é meu pecado). Ou será o pecado que não ousa cometer? Invejou os pecadores. Lamentou não ser um deles.
Longos meses mais tarde, se deparou com a raposa, que com seu pêlo alaranjado e vistoso, a seduziu com garras mansas. Não soube, ao certo, em que momento a teria reconhecido, mas sabia que era ela, a raposa fugidia. Seria o fim das lamentaçoes por sua ausência, e o início da desafiadora arte da convivência. Sim, o amor, essa raposa, exige arte.
menina branca de neve
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira Gullar
Foto: Fernando Naiberg.
Captada em Lisboa
quinta-feira, 9 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
turning tables
Me vigia como uma raposa, me queima e me marca feito brasa, me cospe ainda viva e intacta, inteira, sagrada. Sua menininha mal criada, personalidade forte, palavras gritantes cuspidas e marcantes. É disso que sou, é disso que também és. Dita, escrita, privada, espalhada, de cara fechada e raivosa, te olhando com firmeza, com ganas, com garra. Vem e me atiça, me segue e não larga, com olhos curiosos, com faro aguçado, com passos ligeiros, me persegue e cobiça. Por medo da perda, por medo da busca, não sabe se vai, se sobe no muro, se pula de lá ou se me prende numa gaveta. Em meio a papéis, fujo amassada, menina com pressa, mulher de tato, a que quebra redomas, a que rasga as amarras, a que foge de celas, desfaz as palavras. Casada com vontades, apenas com vontades, não se vê presa, não se vê em estantes, não se vê fixa nem numa frase de poesia, ainda que terna, não se gosta eterna, não se gosta pontuada e por isso se faz amiga das vírgulas, escorpianda fugidia, ame-a ou deixe-a, mas não a peça pra viver de meio termos, meias frases, meias verdades. Matando fantasmas, matando mentiras fantasiadas, matando trapaças. Luzes mortas em meio a sua capacidade de reacender uma grande mulher.
domingo, 5 de junho de 2011
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