domingo, 26 de agosto de 2012

Serendipity

E se a arte de criar filhos, por falta de criatividade, deixasse de ser arte e virasse cálculo? Se não contivesse tamanha subjetividade e desse frente à exatidão matemática? E se pudéssemos decifrar através de uma fórmula físico-química, o passo a passo desse mistério? E se religiosamente seguíssemos alguns mandamentos pré determinados e obrigatórios, a todo o tempo? E se houvesse uma bula, uma bússola, uma rosa dos ventos norteadora? E se fosse como costura, onde junta-se os tecidos com linha e agulha, e joga-se fora os retalhos que não servem? E se aplicássemos reciclagem? E se não nos deixássemos escapar momentos de egoísmo e cólera, e fóssemos apenas entrega? E sendo apenas entrega, sem preservar a individualidade instintiva de todo ser, o que nos sobraria? Que outros antônimos buscaríamos pra encontrar outras tantas respostas em tantas questões flutuantes? E quantos porquês caberiam pairando nessa atmosfera confusa, de dúvida sobre o outro, o coletivo, o querer individualizado de uma só pessoa em meio aos frutos de si mesma. Porque se repartir, colocar pedaços seus no mundo, se esses podem se expandir em direções tão opostas e inesperadas, que depois não saberemos como lidar? Que grande medo é esse de deixar rastros seus em alguém, por não saber aceitar e dizer a si própria quem é essa em frente ao espelho, o que ama, o que busca, o que quer além dos devaneios ditos de forma impensada? De onde saiu, de repente, o feitiço voltado contra o feiticeiro? O colher de frutos podres, e porque? Como apodrecem essas sementes germinadas com tanto amor? Como degeneram, estragam, voltam-se para o fluxo errado da corrente? Quem os ensinou? Quem os serviu de exemplo? É de gene defeituoso? É de instinto ruim? É de índole, karma ou apenas azar? Onde erramos, ou onde erraram conosco, crianças criadas?
In the field of observation, chance favors only the prepared mind. - Louis Pasteur Serendipity is looking in a haystack for a needle and discovering a farmer’s daughter. - Julius Comroe Jr. It’s such a nice sounding word for what it means: a fortunate accident. - From the movie Serendipity In reality, serendipity accounts for one percent of the blessings we receive in life, work and love. The other 99 percent is due to our efforts.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

glup


"Me pinto a mi misma porque estoy amenudo sola, y porque soy la persona a la que mejor conozco."
Frida Kahlo

Já não me expresso bem com as palavras. Introverti. Introspectei-as. Já não reconheço todos os verbos, já não danço por entre versos rabiscados com leveza. Mas estou leve, e estou mais pesada. Mais velha, com mais cicatrizes, mais remendos de pele, de peças desencaixadas e reajustadas. Precisei me reler pra me redescobrir. Recordar daquela que passeava por entre as palavras com dons de quem porta o saber. Saber encaixar a parte certa, expressar sensivelmente, tocar o outro. Não toco mais. Tenho medo. Tocar é íntimo, cria vínculo, cria caso. Virei bicho do mato. Desaprendi. Mas guardei a firmeza, guardei a bravura e as certezas, dos anos e das idades, e do passar dos dias e mudanças de céus. Guardei a calma, a ânsia, a nostalgia, de quem já soube muito, de quem quer saber mais, de quem desgarrou da fantasia, de quem precisa de paz. Adoeci da falta, e da falta eu bebi até
embebedar a alma. Não sei mais. E ainda espero saber.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

simple as it should be


Quanta paz existe no nosso amanhecer...
É meu amor, perto de você, eu ando tão clichê!

domingo, 24 de julho de 2011

Do que se vê por aí


Saída do aeroporto, em um dia comum, num meio de semana qualquer. Saem os passageiros, as bagagens, os que vieram buscar, os que vão de taxi, os que vão sozinhos. Sai sozinha, a aeromoça puxando sua mala, numa postura impecável de lady educadinha. Chama um táxi, vai em sua direção, quando é interpelada por um rapaz alto, bonitão, que a pede seu telefone. Ela mostra sua aliança. Ele mostra a dele. Os dois sorriem maliciosamente sem dizer nada. Ela cede, dá o número, ele anota no seu blackberry e vai embora triunfante: tá na mão. Tempos modernos, meu bem, tempos modernos.

sábado, 18 de junho de 2011

Chão de giz


"Espalho coisas
sobre o chão de giz
Há meros devaneios tolos
a me torturar
Fotografias recortadas
em jornais de folhas
amiúde
Eu vou te jogar
num pano de guardar confetes
Espalho balas de canhão
é inútil
pois existe um grão vizir..."

quarta-feira, 15 de junho de 2011

com graça



"Las luces siempre encienden en el alma..."

un vestido y un amor - Fito Paez

Se o mundo fosse feito do super combo (música + fotografias + amores) a vida seria uma grande aventura. Tudo que emociona, tudo que comove, comanda, governa, tempera e garante a graça. É o que me ganha. O que me basta.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Lamour!




"To see a world in a grain of sand and heaven in a wild flower, hold infinity in the palm of your hand, and eternity in an hour."

(Poema no metrô de Londres, ou se você preferir: pegadas, ou pistas, de uma raposa)

*

Saiu da liquidação na Oxford Circus sem nenhuma sacola, embora tivesse subido as escadas do metrô decidida a se afogar num mar de cifras baratas - ao menos assim se distraía daquele conflito fixo chamado retorno. Já tinha acordado mais cedo que de costume, num ímpeto de vida nova já tinha trocado a antiga senha da caixa de e-mails (HappinessHitHer, ThailandDream, missao2010,NaoSeiSeVouOuSeFico - Sabe lá de onde tirava tanta criatividade, mas haviam te dito que a palavra tem força, que fosse utilizada a seu favor sempre que fosse necessária), e já tinha feito uma arrumação completa no quarto. Vivia arrumando e re-arrumando as malas, assim se sentia como se estivesse de fato, se preparando para a partida. E vivia pensando como ia transformar quatro mala em duas, e como ia transformar pensamentos mudos em atitudes gritantes (ou, no mínimo, em choro). Conseguia prever a visão da cidade pela janela do avião, conseguia visualizar as pessoas esperando no desembarque, o caminho de árvores de bambu do aeroporto pra casa, e a vista da varanda do seu apartamento. Fim. A partir daí vinha um branco, uma lacuna, um vazio de imprevisível, de NOVO e de ANTIGO ao mesmo tempo. E isso inquietava. Remédio pra inquietação é presença amistosa, daquelas, as que a faziam mais mansa, as que controlavam seu surto e a tornavam mais serena, as amigas.

- Sabe, eu sei que não tem nada a ver, mas tem dias que ando lembrando de uma frase que já li num texto de Martha: "o amor, essa raposa".

Ahh, o amor...misterioso amor! Autor das mais excêntricas façanhas, movedor de montanhas, dono de corações em êxtase, em estado de graça, dono de mágica, de jardins floridos, esculturas lapidadas, noites estreladas.

- Ok, menos.

Mas ele perseguia. Na vitrine de sua loja favorita: uma camiseta rosa pink com letras brilhosas piscavam praticamente como um letreiro: "I´m always in love!". Deve ser muito corajoso aquele que vive de coração entregue, rendido ao amor e vítima da paixão - pensou. Invejou os que conseguem. Lamentou não ser um deles.
Continuando a passos rápidos, o tema perseguia com ainda mais pressa. Na camisa de uma moça no metrô: "Love is my sin" (O amor é meu pecado). Ou será o pecado que não ousa cometer? Invejou os pecadores. Lamentou não ser um deles.

Longos meses mais tarde, se deparou com a raposa, que com seu pêlo alaranjado e vistoso, a seduziu com garras mansas. Não soube, ao certo, em que momento a teria reconhecido, mas sabia que era ela, a raposa fugidia. Seria o fim das lamentaçoes por sua ausência, e o início da desafiadora arte da convivência. Sim, o amor, essa raposa, exige arte.