terça-feira, 14 de junho de 2011

Lamour!




"To see a world in a grain of sand and heaven in a wild flower, hold infinity in the palm of your hand, and eternity in an hour."

(Poema no metrô de Londres, ou se você preferir: pegadas, ou pistas, de uma raposa)

*

Saiu da liquidação na Oxford Circus sem nenhuma sacola, embora tivesse subido as escadas do metrô decidida a se afogar num mar de cifras baratas - ao menos assim se distraía daquele conflito fixo chamado retorno. Já tinha acordado mais cedo que de costume, num ímpeto de vida nova já tinha trocado a antiga senha da caixa de e-mails (HappinessHitHer, ThailandDream, missao2010,NaoSeiSeVouOuSeFico - Sabe lá de onde tirava tanta criatividade, mas haviam te dito que a palavra tem força, que fosse utilizada a seu favor sempre que fosse necessária), e já tinha feito uma arrumação completa no quarto. Vivia arrumando e re-arrumando as malas, assim se sentia como se estivesse de fato, se preparando para a partida. E vivia pensando como ia transformar quatro mala em duas, e como ia transformar pensamentos mudos em atitudes gritantes (ou, no mínimo, em choro). Conseguia prever a visão da cidade pela janela do avião, conseguia visualizar as pessoas esperando no desembarque, o caminho de árvores de bambu do aeroporto pra casa, e a vista da varanda do seu apartamento. Fim. A partir daí vinha um branco, uma lacuna, um vazio de imprevisível, de NOVO e de ANTIGO ao mesmo tempo. E isso inquietava. Remédio pra inquietação é presença amistosa, daquelas, as que a faziam mais mansa, as que controlavam seu surto e a tornavam mais serena, as amigas.

- Sabe, eu sei que não tem nada a ver, mas tem dias que ando lembrando de uma frase que já li num texto de Martha: "o amor, essa raposa".

Ahh, o amor...misterioso amor! Autor das mais excêntricas façanhas, movedor de montanhas, dono de corações em êxtase, em estado de graça, dono de mágica, de jardins floridos, esculturas lapidadas, noites estreladas.

- Ok, menos.

Mas ele perseguia. Na vitrine de sua loja favorita: uma camiseta rosa pink com letras brilhosas piscavam praticamente como um letreiro: "I´m always in love!". Deve ser muito corajoso aquele que vive de coração entregue, rendido ao amor e vítima da paixão - pensou. Invejou os que conseguem. Lamentou não ser um deles.
Continuando a passos rápidos, o tema perseguia com ainda mais pressa. Na camisa de uma moça no metrô: "Love is my sin" (O amor é meu pecado). Ou será o pecado que não ousa cometer? Invejou os pecadores. Lamentou não ser um deles.

Longos meses mais tarde, se deparou com a raposa, que com seu pêlo alaranjado e vistoso, a seduziu com garras mansas. Não soube, ao certo, em que momento a teria reconhecido, mas sabia que era ela, a raposa fugidia. Seria o fim das lamentaçoes por sua ausência, e o início da desafiadora arte da convivência. Sim, o amor, essa raposa, exige arte.

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