terça-feira, 28 de abril de 2009

Quando lhe faltarem as palavras


"... Ela era a roubadora de livros que não tinha palavras. Mas, acredite, as palavras estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens, e as torceria feito chuva. (...) "

A menina que roubava livros - Markus Zusak



Gosto de descer até o porão, gosto de ficar por lá, como do silêncio, do chão frio, dos muitos livros amontoados, do altar hindu, e mais ainda, da sensação de estar invisível quando mais queria não ter contornos em torno de mim. Quando preciso me achar, tento antes me perder. Em mim. Sempre funciona. É como mergulhar para ganhar fôlego...a gente volta renovado.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Diversidade


Se é pra falar de diversidade, vamos lá. Me desculpem a franqueza e toda e qualquer ausência de filtro nas minhas próximas palavras. Vou soar crítica, maldosa, e até preconceituosa, mas preciso comentar. Eu sei que o brasileiro, embora tenha fama de ser um povo multiracial e bonito, com mulheres sensuais de andar rebolativo e curvas acentuadas, não é sempre o mais bonito de se ver. Em Salvador, minha cidade, não faltam pessoas feias de doer. Massss, já que estou longe de lá por esse tempo, e venho tendo contato com pessoas de todas as raças, cores e culturas, me dei o direito de comentar a respeito dessa mistura de rostos e jeitos. Desde já peço desculpas a quem quer que eu possa ofender, e antes que me atirem pedras e tomates, eu digo que não me acho a pessoa mais bela do mundo, e inclusive sei citar cada um dos meus defeitos estéticos e comportamentais, mas chega de lenga lenga e vamos lá. A primeira vista, vestidas com roupas de frio, as pessoas pelo lado de cá me pareceram bem elegantes. Diferente dos Estados Unidos, as mulheres não são gordas, mas também como lá, usam aquele biquíni de vó que cobre a bunda muito mais que o necessário, mas se eu for dizer isso vou parecer uma brasileira piriguete, e se eu inventar de usar meu biquininho, aí sim vão me virar a cara por completo! Não que precisem de motivos para me virarem a cara... whatever! Experimentei o biquininho num parque aquático por aqui, e não deu outra! Ouvi os comentários maldosos em alemão, o que faz soar ainda pior! Ui! Devem ter achado que eu era mulher da vida, e quer saber? Sou sim! Da vida por inteira, da vida mais colorida, mais divertida, e portanto, mais desnuda! No geral, as pessoas aqui não são amigáveis, mas também não são bagunceiras como nós. Se houvesse um meio termo, seria o ideal. Mas não é bem sobre os suíços que quero falar. Vamos aos imigrantes que por aqui estão. A começar pela minha escola, existem mais japoneses do que qualquer outra nacionalidade. Eu não sei porque diabos eles adoram ir pra outros cantos, mas sei muito bem o quanto é difícil se comunicar com eles. Sorry pra quem tem lá suas descendências! Me sinto péeessima em falar, mas hoje estou maligna! Simplesmente porque uma das minhas colegas de sala não fala inglês, e o pouco de alemão que ela já aprendeu de lá pra cá, é tudo que usa pra tentar se comunicar comigo, que não entendo quase nada do que ela diz. Se alemão já é uma língua quadrada, sem gingados e remelexos, como o francês e o italiano que soam como música nos meus ouvidos, imagine então o japonês! Eles são muito mais tecnológicos do que nós. Essa minha colega, por exemplo, tem um mini computadorzinho que funciona como dicionário. Enquanto eu fico um tempão procurando as palavras no meu dicionário tradicional, me sentindo uma idiota, ela acha a resposta em dois segundos. Como boa e malandra brasileira, vou dar uma de esperta e tento pescar do dela, e me deparo com aquelas letras japonesas dos infernos. Que dureza! Nao sei se é pior o som dos R's alemães falados com a garganta ou a ausência de L's japoneses, com todos aqueles desenhos detalhados, que são as letrinhas. Por falar em dificuldade para entender outra língua, hoje na aula o professor me perguntou se eu gostava de comer carne. Porém, em alemão, vaca se chama "Kuh", a partir daí já dá pra imaginar o ataque de riso que eu tive. Fiquei roxa de tanto rir, porque, pra completar, tive que explicar ao professor que, no Brasil, aquela seria uma palavra "feia". E eu ia me bastar por aí, mas o aluno novo que é português, tinha que seguir a tradição de que os portugueses são engraçados, e resolveu explicar ao professor o que ao certo seria Kuh em português, ou melhor: cú. Oh ceus! Definitivamente: too much information!! O professor por sua vez, sem conseguir parar de rir (isso não foi muito alemão da parte dele, mas considerando o fato de que o português disse que "cú" era "bunda", o professor alemão, que também fala espanhol, concluiu: "ahh sim...culo!"). E eu já chorando de rir pensei: pqp, chega dessa conversa!! "Enough guys!". Pra amenizar, todas as vezes que o professor queria perguntar algo que tivesse a palavra "vaca" no meio, ele fazia o mugido da vaca para não ter que citar o nome "Kuh". Eu mereço! Pra completar, a outra brasileira foi explicar que, aquele sinal de "ok!" usado nos Estados Unidos, para nós, significa "cú" também. Chega gente, pelo amor de deus, o "cú" ja deu tudo que tinha que dar hoje! Ops, peguei pesado né? E pra terminar, contando esse episódio pra minha melhor amiga e parceira de confidências diárias, que já morou em Londres e agora mora na Espanha, e portanto já conhece os mal entendidos das línguas, ela me respondeu: sim, imagino! É como aqui, que "obrar" é construir, e no Brasil, ou melhor, em Salvador (onde o palavriado baiano com suas criações regionais é ainda pior!) é um jeitinho bem "educado" de dizer que vai "cagar"! Hahahahahaha! Entre branquelos suíços, moreninhos indianos (que também são como praga e estão no mundo todo, e não somente no horário nobre da TV Globo no momento), amarelos japoneses, chineses e tailandeses, estou eu: brasileira de mistura de espanhol com português e índio. Talvez eles não tenham nada de mim, e até me impressiona perceber o quanto as pessoas podem ser diferentes umas das outras apenas porque nasceram de um outro lado. A verdade é que essa história de cultura e de hábitos aprendidos desde que nascemos, é muito mais forte do que percebemos a olho nú. A história de um povo está impregnada nele, tanto quanto a sua criação. Se as japonesas sorriem envergonhadas é porque foram podadas ao longo da história da mulher japonesa. E se eu tenho a mesma mania de, às vezes, sorrir com a mão na frente da boca, não é porque fui podada, e sim porque embora tão diferentes, todos temos nossas similaridades. Jeitinho por jeitinho, no final cada um tem o seu, e mesmo que o "jeitinho" brasileiro não funcione muito pelo lado de cá, ainda é o que eu vou sempre carregar.

Bellevue Platz e minha rima bobinha


Sentada na praça da beleza tudo é belo, até o que é feio. Passa gente e passa cachorro. Passa trem e passa carro, passa até o meu deja vú! Lá vem o bonde trazendo mais gente, lá vem minha língua alfinetar! Passa um casal desengonçado, a cada poste e a cada árvore, as mãos precisam desatar. Eu olho a todos, ninguém me nota, até me sinto janela indiscreta. Só pombos por perto a me incomodar, e eu na janela do mundo a observar...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Walls are in the mind


A madrugada alimenta minha alma. E eu devolvo a ela, o mesmo que ela dá a mim: vida. Mania antiga de não dormir, de não fechar os olhos, de não parar de pensar. Desassossego eufórico, aquele que espera, que cria, que busca. Ando com vontades vorazes consumindo meu peito. Andei até reparando que minhas unhas e cabelo crescem muito rápido e que isso deve ter alguma correlação com toda essa energia no meu ser. Andei notando que meu entusiasmo é tanto que espanta o meu corpo e ele fica parado, quietinho, sem atitude. E isso é irritante pro resto de mim que quer fazer e acontecer. A solução deve ser inventar algum inseticida contra má vontade, contra medo e paralisia. A solução é tapar os ouvidos contra a omissão e o tédio. A solução é acreditar, que tudo há de se realizar.
*




Amor de mundo




Não acreditava que não podia possuir. Queria, queria muito, com toda força que havia dentro de si. Sonhava, sentia impulsos de ir a pé, mas o mundo era muito para seus passos e isso te levaria anos. Tinha pressa. Queria agarrá-lo com as mãos, beijá-lo e abraçar até caber todinho em seus braços. Estava num caso de amor só! Com o mundo! Sonhar apenas já não te satisfazia mais. Queria ir, queria ter, queria fazer, queria, e ia, teria, faria. Mas quando? A dor do mundo te consumia, a dor de não ser conhecido. Doía em si, tanto quanto nele. Queria conhecer, queria demais, e não te bastava querer. Estava tão perto, o que mais podia fazer?

A festa da nuvem


Já é de manhã mas ele não apareceu. Se enfezou e mandou recado dizendo que não vinha. Ela foi educada, e disse que faria sala para as visitas que aguardavam a presença dele. Chegou meio dia, e nada dele. Quando o gato não está, os ratos fazem a festa. E o foi o que ela fez. Cansou de fazer sala e disse que ia dar o seu show. Convidou a todos para assistir, se enfeitou de raios e relâmpagos e se maquiou de sombra cinza, para combinar com o tom do dia. E de repente, lá estava ela, nuvem cinza a se chover. Os ventos, seus convidados, cantaram pra valer. E ele, o quente e enfezado, só no outro dia resolveu aparecer. Até hoje acham que a chuva é choro, mas na verdade, é a festa da nuvem, que esperando o sol, resolve transcender. Essa história de que o sol é o astro maior incomoda ela, a nuvem também quer aparecer. Essa história de ficar limpa e branquinha, sempre por trás dele ou ao seu redor, incomoda ela. A nuvem quer seu brilho próprio, quer dar seu show, e assim ser.

Morar fora


Eu já li alguns textos sobre "morar fora", e sem querer me influenciar por eles, aqui vai o meu. Sempre sonhei em me aventurar pelos "foras" do mundo, e agora que finalmente estou por aqui, descobri que na verdade não estou tão fora assim...aliás, estou cada vez mais dentro. Leia-se: de mim mesma. Como sou minha companhia mais frequente, frequentemente me pego pensando na morte da bezerra. Como se eu ja não fosse pensativa o bastante, agora sou sou ser pensante não mais como hobbie, mas também como estilo de vida. Não há de ser tão ruim assim, queimar alguns neurônios vez ou outra! Logo eu, tão tendenciosa a dilemas e questões existenciais, e sempre tão cheia de pressa, agora o que mais tenho é tempo. O que já foi uma necessidade, hoje sobra. Para mim e só pra mim mesma. Eu em carreira solo, by myself, on my own, sozinha. Nunca me senti tão sozinha e portanto sendo obrigada a conviver e conhecer bastante essa que é minha única companhia: eu mesma! Que dureza! O que antes eu acreditava convictamente que sabia e dominava, hoje volto à estaca zero e recomeço. Aprender tudo que eu achava que já sabia e não sabia nada! Era só pose! Isso sim é se bastar, não aquela brincadeira de ser independente que eu costumava levar a sério. O sério agora vem só de mim, quando eu quero, na hora que quero e SE quero. Porque quando decido também, tudo muda. E tem mudado com frequência. Boto arte aonde quero, risada aonde vejo graça, e os dias vão fluindo com o passar das horas, que às vezes se arrastam, e às vezes simplesmente voam. Algumas verdades devem ser ditas...não que eu precisasse ir para tão longe para conhecê-lás, mas já que aqui estou, vale confirmar o que minha mãe já dizia. Se algum dia pensei que minha vida mudaria da água pro vinho caso eu fosse embora, me enganei completamente. Meus pensamentos, dúvidas, todas as minhas questões e conflitos parecem me perseguir aonde quer que eu vá. Todo dia quando saio da minha aula de alemão, vou andando pela ruas que já conheco, a procura de ruas ainda desconhecidas, e escrevendo isso agora percebo que vivo nessa eterna procura, mas o que é mesmo que estou buscando? Coloco meu fone de ouvido, ligo minha trilha sonora, e sempre toca "Miss Independent" pra me animar! Entretanto, aqui, sou Miss Inconstante. Há dias em que me sinto livre, leve, independente, com um milhão de caminhos na minha frente pra escolher e voar. Aí como se uma ventania viesse e levasse essa empolgação toda, eu fico "blue". Fico me sentindo presa, e tudo que mais desejo é me teletransportar pra minha casa. São dias em que me pergunto porque estou aqui, e sinceramente...ainda nao achei a resposta, mas acredito que antes de voltar ela vai aparecer, afinal, deve existir uma explicação pra tanta solidão! Então de repente eu penso que eu já nem sei mais aonde é a minha casa... E mais uma vez relendo o que já escrevi, me achei dramática. Mas se não for intensa, não sou eu! E aí cabe todo o drama, todos os excessos, todas as expressões...em hipérbole! Nao desgosto dessa minha característica, mas me dá um bom trabalho pra administrar! Vivo cada dia com todos esses pensamentos muito meus, e basta uma brecha para que eu os divulgue. Uns goles de vinho e já estou aqui contando tudo isso...Mas peraí , era pra escrever sobre mim ou sobre morar fora? Desculpa, é que já não sei aonde começa o meu "eu" e termina o mundo. A essa altura, já nos misturamos e nos confundimos um com o outro. É muito bom mudar de idéia as vezes, e melhor ainda é ter idéias para mudar. Mas sabe, essa coisa de ser sozinho não deve fazer muito bem por muito tempo, afinal já dizia o poeta: "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho".

Relatos guardados - 30 de Outubro de 2008


Bebeu do vinho que tinha
ligou pra quem queria
se debruçou sobre a bancada que havia
e riu como quem via
o futuro mudar...
Caiu na água irradiando alegria,
e por um momento se aquietou.
Olhando pro céu percebeu
o quanto a vida era irônica
e o quanto ela ainda haveria de ser
surpresa
futura
sua.
Sentiu o barulho do que a espera
Ouviu apenas o silêncio da água ao seu redor
fechou os olhos e mergulhou
no seu novo sonho
que está apenas pra começar...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre ela




*
Foto: Montagem com fotos do: http://www.flickr.com/

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Dizem que ela sorri com gosto, mas que suas lágrimas pesam como uma dor. Dizem que seus passos são rápidos, mas que seus caminhos são círculos infinitos que giram e voltam ao mesmo lugar, até se confundirem com outros círculos por aí. Dizem que ela é meio maluca sem cura, mas que tem algum juízo. Que é muito falante, mas que se cala com firmeza quando assim decide. Dizem ainda que ela cospe palavras escritas com precisão, mas que se engasga para falar dos seus sentimentos mais crus. Dizem que sua boa memória é de dar medo, e que sua mania detalhista é eficiente quando necessária. Dizem que ela não dispensa uma brisa vinda com sol, que guarda lembranças em cheiros, que tem um gênio de lascar, e que suas histórias dariam um livro. Dizem que sua essência é mais que sua aparência, que ela não adormece fácil mas que não gosta de acordar, que seu sexto sentido é independente, e que ela ri mesmo falando sério. Dizem que sua vida é uma piada, que ela ri na cara da desgraça, que seu sarcasmo se embola com suas verdades, e que ironias são seu hobbie quando precisa se defender. Dizem que ela usa escudos de aço, mas que se despe com vinhos e boas palavras, mais ainda se forem musicadas. Foi vista por aí acreditando em palavras, e sustentando-as como base para seus atos eternos. Dizem os mais entendidos que ela coleciona palavras. Que seu passatempo é caçá-las. Dizem os mais íntimos, que ela sonha com chuva de papel picado colorido, com piscina de jujuba, com cachoeira de suco de uva, com campos de girassóis e sinfonias em alto volume nos seus ouvidos. Dizem também que é meio atrapalhada, que se esbarra nas pessoas, mas que sabe cuidar de pessoas. Dizem que ela se doa a parcerias e investe em intensidade. Que ama o amor e cultua a liberdade. Que, quando derretida, de fria e calculista, vira quente e letrista. Que inventa apelidos porque gosta de inventar. Dizem que acredita em castelos, e mais ainda, no seu próprio castelo de sonhos. E até temem que ela não saia de lá. O medo dela é ir e não conseguir voltar. Dizem que ela gosta de se deitar sobre o céu, que aponta estrelas e nuvens com intimidade, e que não há dia em que não goste da sua companhia e fique à vontade. Dizem que gosta de se deixar pintar, e que gosta de se deixar voar. Dizem os mais maldosos que ela gasta além do que tem em posses, mas que tem muito mais em desejos, e não os deixa por realizar. Dizem que ela é fada mesmo sendo gente, que é criança mesmo sendo adulta, que é menina mesmo sendo mulher, que troca feijão por sorvete, que tem apetite infantil com gula animal. Ela não tem só fome, tem vontade de comer. É rainha das vontades, e portanto, tem vontade de beijar, vontade de pular, de lá, de ficar, por lá. Foi vista guardando flores, foi flagrada roubando frases, foi incentivada a escrever sobre seus humores. Mesmo triste, acostumou-se a rir, e desde então, acostumou-se a fazer rirem. Forçada a fazer, não faz. Desafiada, vai até o fim. Dizem que ela não é tradicional, mas que em alguns pontos é careta, ou que ela não é careta, mas que em alguns pontos é tradicional, seja lá o que for. Que foge dos padrões quando se revolta, que quebra regras e as renova, que os limites do seu corpo às vezes não são suficientes para toda a alma que ela tem. Diziam quando mais nova, que nela faltava concentração, e até já foi punida por tanta distração. Quando menos percebe, se vai com as estações, e quando acorda com o sol no rosto, sente-se feliz. Começa novos dias a cada dia, se lança em fantasias, criadas inevitavelmente ao longo dos tempos vagos, quando se deixa levar pela imaginação. E sempre se deixa levar pela imaginação. E sempre volta recheada de idéias. Dizem que, de tanto não conseguir se calar, por vezes fala com si própria e até com suas outras versões que, com certeza, nela habitam. Dizem que ela se escancara sem pudores, mal sabem das suas vergonhas, ela acha que sabe disfarçar. Dizem que ela curte entrevistas, e que de tantas entrevistas que tem em mente, e de tantos escritos a publicar, deveria ser jornalista. Mas cismou de ser poeta, e não é recomendável ir contra um poeta. Também nao é recomendável cultivar rivalidades, muito menos com ela. Dizem que mesmo com tudo que dizem para ela, ela ainda se confunde com o que acreditar. Dizem que sua sede é de vida, e que sua fome é de busca infinita, que seus valores são antigos, que suas roupas são modernas, e que sua alma tem a mesma idade da idade do céu. Dizem que ela faz de limão, limonada, e que não se incomoda de compartilhar, de fato até se diverte quando tem que contar. Ah, dizem também que ela sabe tudo que dizem sobre ela, e que, sem excessão alguma, aprecia cada um dos dizeres sobre si. E que assim fechem as cortinas, pois dizem que depois que tudo termina, ela também gosta de descansar.



segunda-feira, 20 de abril de 2009


E porque fiquei sabendo que o filme baseado no livro foi lançado, por eu ter me identificado com ela desde o primeiro livro que li da coleção que veio em seguida, por eu estar num momento totalmente "Shopaholic", ai vai o meu texto antigo, porém sempre Becky Bloom. Permitam-me um momento de futilidade, de comédia água com açúcar, de besteirol engraçado, de vaidade e feminilidades em excesso. Prometo que acordo do delírio...um dia.

*

Ok, eu admito, eu sou uma louca seguidora de Becky Bloom. Como é difícil resistir aos meus impulsos consumistas!!! Segunda-feira: a primeira livre depois de 7 meses de trabalho intenso. Livre porque pedi pra ser liberada, livre porque preciso pegar uma matéria que só tem nesse dia da semana, livre porque eu saí da aula e fui perambular por tentações com cifrinhas!! Ah, que besteira, tô na faculdade, a Tok Stok é aqui do lado, várias coisas lindas de casa, várias coisas que estou precisando comprar pra agora, e para daqui aos muitos anos nos quais terei que construir meu futuro apartamento, minha futura casa de praia, meu isso e aquilo outro, que ainda não tenho, mas que um dia eu VOU TER. Hahahaha! Ta rindo ne? Mas eu li "O Segredo", assisti o filme e tudo, sou esforçada e auto confiante, porque nao? Ta, então vamos lá...nossa, e como é grande! Porque diabos eu nunca entrei aqui antes? Isso aqui é O máximo! hihihihi..olha aliiiii, aquele negócio de organizar livros que eu estava querendo! hmmm, legal, tem de várias cores!! Iuuuupiiii, olhaaaaaaaaa o prendedorrrr de toalha de rosto, coloridooo, em formato de bichinhooooo, siiiiimmm, já é meu!! Preciso de um carrinho! Aonde acho um? Pera, tem uma parte só de banheiros, e aqui do lado tem outra sóóó de escritório e, depois tem coisa só pra jardins, ai que lindo, quero um jardim! Sala de estar, quartosss, um quarto em estilo japonês!! Mas peraí, eu já pintei a parede do meu quarto de roxo, preciso de coisas roxassss, lilás! Adoro verde com lilás, rosa com lilás.......ahááá, eu sabia que tinha sido uma boa idéia vir aqui, meu deusss, que paraíso...Aí eu vou vendo tudo e querendo tudo, e começo a ficar tonta...eu posso querer um copo d'água? AlôÔÔ, alguém aí pode me atender? Oi moço! hihihi! Obrigada! Não, não quero conhecer a sessão de puffs e sofás, quero é travesseiros, colchas, edredons, e uma cortina por favor! Ah sim, e toalhas! Roxa de preferência! Mas também gosto muito de tudo branquinho! Ah, temos uma sessão só de coisas branquinhas?? Temos de todas as cores?? Até aquele treco de regar plantinhas em todas as cores? PQP, isso é um atentado ao meu cartão! Calma, eu não preciso disso aqui, mas tá tão bonitinho, vai ficar tãão bem com aquele negócio de colocar canetas! No fim das contas, tudo tem sua utilidade, não é?! Minha água...hmmm, obrigada! hihihihi, to adorandooo, tão bem atendida! Mas vou andando e andando e me perco do moço...me aparece uma senhora, me pede uma opnião...ah, se eu prefiro este ou aquele porta-papel-higiênico? Hmmm, este aqui! Sim, muito mais arrumadinho ne? Ah, de nada! Imagina! Pode perguntar sempre que precisar! Mas o que fez ela achar q minha opnião valia a pena? Ora ta, eu sou o máááximo, a rainha do bom gosto minha filha! hahahaha! Bora, continue andando...lalala lalarilala...to cansando disso aqui, cadê a saída?? Não acho, ok, é um sinal para continuar olhando todas as prateleiras! Louca, só pode! Aliás, essa minha mania de sinais da vida! Ticiana, você é obssessiva compulsiva, com certeza! Ah, mas quem não é um pouco? Whatever, bora embora, já chega! Estranho, continuo não achando a saída! Mas quessss pilantras esse povo que constrói essas lojas! Fazem tdo parecer sem fim, meu deus, estou num labirinto, como eu saio dessa biroscaaaaaaa?!?! Socorro! Não quero mais comprar, não, não quero! Quero ir embora! Ah, oi moço, vc aqui de novo? Hihihihi, me ajude, aonde fica a saída?!? Sim, a saída! Não, já estou satisfeita, obrigada! Claaaaro que volto! Hihihihi! Tchau moço, adeussss, cadê o caixa? Vamos embora....muito bem, agora vamos no Shopping Salvador, pq não?! É aqui do lado...hmmmmm, ta vazio! Ótimo! Ai meu deus, que vestido LINDOOOO, balonet, beeeem princesinha!! Eu ficarei A princesa de Monaco nele! Preciso desse vestido, eu quero, ninguém vai me impedir!!! Na próxima festa serei eu e ele, ele e eu, e minha auto estima nas alturas dentro dele! É meu! E se eu não for embora agora, vou querer a sandália que combina com ele! Vou fugir desse shopping filho da mãe! Aproveitador barato dos meus surtos de Becky Bloom! Aliás, barato uma pinóia! Vamos embora...mas peraí, aonde eu parei meu carro? Ah, q clássico! No dia que eu me lembrar aonde largo o carro nos estacionamentos, eu mudo meu nome! Pronto, essa TAMBÉM SOU EU. Confesso, estou longe de ser perfeita, não faço mal a ninguém, mas tenho esse grave defeito: o consumo me consome, eu sou a louca do shopping!! Sim, eu sou "esperta e cultuo bons livros, amo os animais, ta ligado eu sou o bicho!" hahahaha! Mas também sou uma porra louca que acha que pode ter o mundo, se bancar até quando não pode mais, irracionalmente louca por abraçar o mundo! E ele vai ser meu...ah, se vai!

A mim


Estou grávida de mim, estou em pânico, em parto, em erupção.
Estou em mitose, em meiose, por osmose, exercendo fagocitose.
Estou em overdose, overdose de mim.
Estou me criando, estou me amando, estou delirando,
estou me odiando, estou sempre mudando.
Eu estou procriando, estou delirando, estou me sugando.
Estou me somando, me dividindo, me multiplicando,
estou me calculando, me podando,
junto ao meu jardim.
Estou em atividade,
em kilometragens,
em velocidade.
Estou me derivando,
me doando,
me emprestando,
me entregando...

a mim.

domingo, 19 de abril de 2009

Ao natural



Ou fico parada ou sou agitada,

Ou sigo meus impulsos ou sou preguiçosa,

Ou faço algo grande ou não apareço,

Ou sou quente ou sou fria,

Ou sou preto ou sou branco,

Ou sou oito ou sou oitenta,

Peco pela falta, ou peco pelo excesso.

E as pessoas não entendem

que não faço por mal

é só o meu jeito torto ao natural.

A gosto seu

Eu não sei mais do seu gosto,
mas o seu cheiro ainda paira no ar.
Peça para que ele me deixe quieta,
senão não posso sossegar.
Siga me levando,
mas me deixe ficar.
Só volte se for pra trazer paz,
e assim, te deixo me carregar.
Se for pra topar qualquer uma,
sou sempre sua companhia,
se for cada um pro seu lado,
que termine essa agonia.

sábado, 18 de abril de 2009


Você me lembra terra e fogo
luz, lua e carvão.
Você é minha mão no fogo
minha mãe, meu leão.
Você é nuvem, magia e cor,
Você é o meu pé no chão.
Você sou eu em qualquer jogo,
Você é minha inspiração.
Você é o vermelho em diversos tons
e perto de você, eu sou observação.
Vim aqui e te fiz crescer,
mas longe de você,
eu seria apenas imaginação.

Sou mais eu porque sou você.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Muito meu...

A palavra entra com fúria, a palavra vem confusa, e tudo que eu sei é que, em mim, ela se reproduz tanto quanto me renova. Me permito esse passeio ao passo em que aceito o seu convite, o de passear pelas suas significâncias, e essas por sua vez, cada vez mais vão ganhando meus tons pessoais, cada vez se tornando mais carnal, carne minha. Tudo em mim é tão insistente que se fixa e não se vai. Se fecho os olhos ainda vejo cores fortes, se tapo os ouvidos ainda ouço canções vibrantes, se deixo de lado minha sensibilidade, ainda assim sinto poesia. "Poeta, poetinha camarada", eis minha sina, palavra minha.

Por perto

Deixe que eu decida, se é cedo ou tarde, se ja é hora ou se estamos atrasados,
se é pra sorrir ou pra fingir que não dói.
Deixe que eu escolha o tom da voz, da música, da cor que vamos pintar.
Deixe que eu sinta. Sua chegada, seu cheiro, sua pele, e um dia sua ausência.
Deixe que eu fuja e deixe que eu volte.
Deixe que eu fale, deixe que me cale, não deixe meu silêncio te incomodar.
Deixe que o vento leve palavras cuspidas, deixe guardadas palavras eternizadas.
Deixe que o dia acabe, que o ano passe, que a vida aconteça, sempre por perto.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Relato antigo de um dia qualquer...

Resmungava da falta de tempo pra tudo, qualquer coisinha que fosse sendo adiada e adiada em função da falta de tempo. Tempo. Preciosa contagem de quanto temos em mãos. Entre descansos corriqueiros nas três horas de ônibus por dia, sonhava com mais tempo. Entre intervalos de aulas e reuniões de trabalho, corria contra o tempo. Contradição de ir contra aquilo que você mais quer ter. Tempos modernos mocinha, vai aprendendo! E pedia pelos tempos antigos, pedia pelas manhãs de desenho animado, lembrava de como se sentia o Garfield que so pensava em "comer dá sono e dormir dá fome", pedia pelo misto quente com queijo derretido e vitamina de banana da infância, lembrava dos dias que teve catapora e gostou! Criança pilantrinha quando arranja motivo pra não ir pra escolinha gosta, mesmo sendo doença que coça e deixa marquinha. E comemorava correndo em volta do molhador de grama. Liberdade! "Essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda".Lembrava do "Bicudo", mais conhecido como "o homem do saco", que leva a gente embora, caso a comida ficasse no prato. Lembrava da história contada pela Tia-avó, fingindo que os feijõezinhos davam as mãos e iam em filinha pra nossa boca, enquanto se balançava na rede, do lado de fora de casa. Lembrava das tardes em que chegava do colégio e ficava largada em casa, ainda de farda, na cama dos pais, enrolando pra estudar, comendo biscoito Bono com Nescau, assistindo video show, vale a pena ver de novo, sessão da tarde, malhação. Pedia pra voltar no tempo, mas achava que era em vão, até cair de febre, gripe, molho. Quando você não pára por si só, seu corpo da um jeito de fazer você parar. Quando as coisas não acontecem de dentro pra fora, vem um fato externo que faz acontecer de fora pra dentro, já dizia a secretária gordinha do meu antigo estágio, quando comecei a ficar grandinha. Grandinha e em casa o dia todo já não tem mais a mesma graça. Apenas um dia e o tédio já toma conta da grande tarde de video show e você já nem acha mais que vale a pena ver de novo, e desliga a TV antes de malhação começar. Coisas com gosto de infância ficam pra sempre na nossa memória, e têm um valor maior enquanto estão la guardadinhas. Quando a gente já não cabe mais no modelito da Cris & Nanda e da Lilica Ripilica, quando a mochila da Company já não combina mais nas nossas costas e quando o conga, o tênis de moranguinho e o Reebok preto de botinha já ficam rídiculos nos nossos pés, ficar em casa esperando a vida passar também é ridículo, e a única coisa que ainda é cabível na cena atual é o colo de mãe. Esse sim, pode passar 500 anos, continua se encaixando muito bem!

Inconstante.

Se descobrir inconstante é se achar em meio a nós, que nem nó de corda, cordão, cadarço, fios de carretel embolados. Embolar-se em si mesmo é se misturar diante de suas escolhas. É querer hoje e já não saber amanhã. É ter ido dormir contente e acordar insatisfeito, é ser lua em fases diversas, é ser quase bipolar. É estar confuso tentanto estar convicto, é estar meio cego e ao mesmo tempo vendo demais, vendo além do que os outros vêem, e não conseguir se explicar, se fazer entender. É beirar a loucura, é querer tirar férias de si mesmo. É um vai e vem de emoções, uma montanha russa do humor, um frenesi instantâneo e certo do que quer, seguido por um maremoto de não querer mais. É mudar de idéia. Uma, duas, dez, dez mil vezes. É ser monofásica, bifásica, trifásica. É recomeçar um plano, re-traçar uma meta, agarrar o foco com as pontas dos dedos, quando ele está para escapar das mãos. E quando o "bem que demorou de chegar" enfim estiver em segurança nas mãos suadas, é saber não deixar escorregar outra vez. É sugar, sugar o melhor de si próprio, e expulsar de si para que se torne real. É saber, é não saber, mas ir fazendo acontecer. É registrar, divulgar, e esperar. É aparecer sem máscaras, nua, crua, verdadeira cara amarela da falta de verão.
Tenho assumido muito minha cara amarela, meus surtos e dilemas. Quem quiser que não goste. Eu não vim só para colorir, só pra agradar.
E quer saber? Respeite suas nuances, moça. Um dia elas irão te agradar. Se até cobra feiosa vira bolsa cobiçada, porque sua loucura não pode te fazer voar?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A menina que roubava livros - Relatos de 31 de Julho de 2008

"Quando viesse a escrever sua história, ela se perguntaria exatamente quando os livros e as palavras haviam começado a significar não apenas alguma coisa, mas tudo. Teria sido ao pôr os olhos pela primeira vez na sala com estantes e mais estantes deles? Talvez nunca houvesse uma resposta exata sobre onde e quando isso havia ocorrido. Seja como for, estou apenas me adiantando. Antes de entrarmos em qualquer desses assuntos, primeiro precisamos dar uma volta pelos primórdios de Liesel.". Uma das páginas de "A menina que roubava livros", livro que começa triste e perturbador, mas se você insiste nele, acaba se apegando à história, ainda que seja um pouco cedo para que eu afirme isso, mas não tão cedo para já me identificar com alguma parte da história. Os livros que vêm parar nas minhas mãos, nunca vêm por acaso. Como tudo na minha vida, tudo tem um motivo de ter sido "naquele tempo" e "daquela maneira", tudo se encaixa, tanto quanto as estrofes e refrões que embalam sonoramente os meus momentos, tanto os que marcam, como os que apenas passam por mim, ou eu por eles. Uso palavras alheias para me registrar, talvez seja essa a minha maneira de dizer tudo, e nada, ao mesmo tempo. Não foi por acaso que decidi entender de Psicologia, ainda que eu não tenha tido consciência plena dos motivos que me levaram a isso quando entrei por essa porta. Sempre tive extrema curiosidade pelo comportamento humano, especialmente por aqueles difíceis de explicar, e mais ainda, difíceis de se entender. Talvez por isso, sempre atraí pessoas de personalidade questionadora, de jeitos e trejeitos instigantes, de formas de se expressar muito parecidas com as minhas, ou completamente opostas. Dizem que os opostos se atraem, porém, não se suportam. Talvez pela angústia que nos causa não poder compreender atos e comportamentos tão diferentes do nosso repertório de formas de expressão. E angústia não é um sentimento fácil de administrar, embora, muitas vezes, ela nos impulsione para conquistas. Mas e quando nem a si próprio é fácil de justificar, explicar, traduzir? Sempre que decidi me entender, me vi de forma contraditória. Às vezes consigo "ser o ser" mais contraditório do planeta. Na agonia e na pressa de conhecer, busco paz justamente em livrarias, quer ambiente mais angustiante? Consegue passar a paz do silêncio, onde somente os livros falam...e por saber o quanto eles têm para me falar, me inquieta saber que não tenho todo o tempo para ler. Minha ansiedade me faz pegar os três livros aos quais tenho direito pela cota da faculdade, mas também, me faz não ler nem metade de algum deles. A ansiedade nos move, mas também nos paralisa. Quem quer fazer tudo, pode acabar não fazendo nada. E viva o desassossego! Como fomos treinados a redigir redações na terceira pessoa do plural, perdemos o hábito de nos expressar na primeira pessoa do singular, o que nos leva a nos esconder atrás de textos que não assinamos, atrás de letras de músicas com as quais apenas nos identificamos. Perdemos o costume de expressão pessoal e singular, aquele que dá a cara a tapa, por dizer "sim, essa sou eu!". Nos expões demais, não é? Entretanto, pela grande intimidade que tenho com a palavra escrita, e não tanto com a palavra falada, posso te escrever sobre mim. Eu? Eu tenho sonhos que mal cabem em mim, eu tenho uma alma que fica apertada no meu corpo de tão afobada que ela é. Eu tenho um espírito que voa longe e me traz a busca por andanças. Eu tenho fome de conhecimento, fome de boa música, fome de boa leitura, fome de cultura, fome de paixão, fome de liberdade. Eu quero beijos que entorpeçam minha alma eufórica e que carreguem meu espírito leve para mais uma andança. Eu quero caminhar em trechos de poesia cantada, eu quero sentir minha constante pressa em ser, em ter, e em fazer o meu mundo mais colorido, mais culto, mais brilhoso, mais meu. Almejo conquistas, me viro nas circunstâncias, me jogo no desconhecido e lido com o amor com cautela, por ainda estar aprendendo a entender desse mistério. E quanto aos "primórdios" da menina que roubava livros, eu digo: sim, eles têm importância de causa e efeito. Não só na história dela. Mais uma vez cito uma frase do livro: "As pessoas têm momentos definidores, suponho, especialmente quando são crianças". Definidor pra mim, foi quando, por aquela curiosidade que nos consome, quis entender as cartas que meus pais trocavam e ficavam guardadas num criado mudo no quarto deles. Aí sim se tornou interessante a leitura nossa de cada dia...ler sobre o amor, o mistério nosso de cada dia...