quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Time to choose the right colors. Time to go.




“Uma pessoa não entra no mesmo rio duas vezes: na segunda vez, não é o mesmo rio, nem a mesma pessoa.”

Heráclito

**

Eu não sei qual fim terá, e para te falar a verdade, pouco me importam os fins, eu vivo mais de começos. Mas uma coisa é certa: fechando-se as cortinas, acabando-se os espetáculos, nenhum de nós será mais o mesmo. Ponto de partida dá gostinho de coisa nova e, nisso tudo, o que será coisa passada? Sei lá. Mas tem me deixado nostálgica e até figurinha repetida entre os textos redigidos. Mas eu vou te deixar se extravasar, para que a despedida seja vivida e a partida seja bem dolorida, assim não se perdem os pontos finais necessários, as exclamações merecidas, as reticências queridas... Aí, por fim, eu fui te rever e me rever em você. Tentei escolher as cores certas para decorar as minhas lembranças, e dos leões que cavalguei, nenhum sequer quis vir comigo. Batalhas vencidas, troféus recebidos, sem testemunhas e vítimas, apenas meu ganho. Tentei guardar a cidade no olhar, mas era tanta luz, som e mistura de rostos, que me fez me lembrar dos nossos próprios rostos tantas vezes por ali. Tentei levar a paz dos parques, até compreender que, a paz daqui, fica aqui. Que tudo que for meu, vai sempre estar aqui, rompendo distâncias e barreiras de tempo e destino. Então pra garantir, carreguei o vinho na bolsa e o deixei se derramar. Marquei o couro, o tecido, a camisa "i love london", só pra carimbar. Manchei de uva pisada todo o caminho que já pisei, e percebi que ainda com o meu pranto, a cidade vai continuar a encantar. Mesmo sem a minha graça, com a sua própria graça, tanta gente a ela ainda vai se entregar. E quanto a mim? Bem, eu continuarei aventureira e nômade, assim como os ônibus vermelhos e táxis pretos continuarão a circular. E o mais engraçado é que continuarei parte daqui, como as cores da London Eye, os leões da Trafalgar Square, as luzes de Picadilly, a precisão do Big Ben, e o verde do Hyde Park. Acho que nenhum de nós será mais o mesmo. A Londres de Ticiana, a Ticiana de Londres...ambas soltas no mundo, por aí, sem se possuir.

Se despedaça


Tá tão ruim sem você!
tá tão ruim ir embora
tá tão ruim pro meu coração
que ele quase tá se negando a ir
e me deixando ir sozinha!
Eu já disse a ele
que ser sozinha é chato
mas ele prefere ficar aqui com vocês
e eu nem mando nele, você sabe...
Teimosia é trapaça!
mas ô gênio forte tem esse meu coração...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Stop! Follow the lines!



Fotos: Flickr

*
"Tua caminhada ainda não terminou....
A realidade te acolhe
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras
e do teu silêncio.
Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.
É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá de ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.
Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.
Não faças do amanhão sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...mas vá em frente
pois há muitos que precisam que chegues
para poderem seguir-te."
Charles Chaplin
**
Diminuiu o volume, diminuiu o ritmo, a pressa, a agonia, as palavras, os pensamentos sem ordem. Se aquietou e se ouviu um pouco, sem falar. Pensou, pensou, pensou. Suspiro audível uma vez. Duas. Três. Perambulou em círculos, voltou a sentar, saiu, andou pelos labirintos de mente, voltou a sentar. Fez drama, estardalhaço, escarcéu. Chorou, precisava soltar. Ufa! Chegou à decisão que precisava, levantou, arrumou tudo, e em pouco tempo não estaria mais ali. Assim, sem muito tempo para circo armado, armou seu destino dali pra frente. Rápido assim, como o tempo que acabava enfim. E com certeza, vem coisa boa por aí.

sábado, 26 de setembro de 2009

Meu amor é uma cidade.


“Agora eu era herói, e o meu cavalo só falava inglês...
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões...
e você era a princesa que eu fiz coroar,
e era tão linda de se admirar, que andava nua pelo meu país.
Agora era fatal, que o faz de contas terminasse assim,
pra lá deste quintal, era uma noite que não tem mais fim.
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?”
Chico Buarque - João e Maria


***


O meu amor tem cores diversas, cores que só eu vejo. O meu amor tem um cheiro que só eu sinto, e tem uma temperatura que só eu amo. O meu amor é uma cidade. É o meu andar mais meu, é o meu mundo completo, ainda que incompleto. E ainda que me consolem, que me digam que também já a viveram e a ela sobreviveram, eu não me sinto menos triste. Não me refiro a chegadas, agora sou somente partidas. A despedida é cortante no meu peito, não há frase que me acalme, não há consolo que me alegre. Tenho sofrido de amor. Um amor puro e terno, de uma cidade que ganhou a mim. Há dias choro de uma saudade antecipada. Não me imagino mais sem as ruas de Londres e sem a independência que me carrega por elas. Não me imagino mais sem esse ar poderoso, que me leva e me traz tanto acontecimento intenso. Então tenho sofrido. Tenho revisto todas as fotos, re-assistido todos os vídeos, ido mais uma vez, em cada lugar conquistado. Todos os dias, tenho andado pelas ruas tentando arrancar delas o que quero guardar comigo, como se fosse a última vez. Porque ainda que eu volte um dia, não será mais essa época, essa paixão, nem eu serei a mesma. Tenho chorado com todas as minhas lágrimas, sentindo lá dentro aquele aperto que dói quase uma dor física. Não me acostumo com perdas, embora não me seja desconhecido esse sentimento de “deixar de ter”. Deixar de ter Londres vai ser quase como deixar de ter a mim mesma. Nunca fui tão intensa quanto fui aqui, e nunca fui eu mesma quanto tenho sido a cada dia, nesse canto longínquo, no qual só não posso ficar, porque não nasci pelos lados de cá. Então sigo nua por aí, desprendida de mim, porque pela a minha lei, a gente ainda é obrigado a ser feliz, ainda que eu esteja doente de amor. É, doente, literalmente doente, como nunca tinha ficado desde que saí de onde nasci. Se despedir tem virado um hábito ao qual eu não consigo me acostumar. Contudo, me parece comum sumir no mundo sem avisar, e sendo assim, em qual canto eu vou parar? Haja coração! Jogo pro alto o que a vida for fazer de mim. Até breve, porque “adeus” é doído demais para quem se despede de um grande amor.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dona do tempo


"Deixo tudo assim, não me importo em ver a idade em mim. Ouço o que convém, eu gosto é do gasto. Sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado. E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria? Ah, tanto faz...e o que não foi não é! Eu sei que ainda vou voltar, mas eu quem será? Deixo tudo assim, não me acanho em ver vaidade em mim. Eu digo o que condiz. Eu gosto é do estrago. Sei do escândalo e eles tem razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo. E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado? ahhh ora se não sou eu, quem mais vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão! Ahhh... se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição. Vou levando assim, que o acaso é amigo do meu coração...quando fala comigo...quando eu sei ouvir."



O velho e o moço - Los Hermanos




***

Agora o tempo esfria e as folhas começam a cair, amarronzadas, gastas, perdidas ao vento. Não me comparo a elas, embora também me deixe levar pelo vento muitas vezes. Agora o vento é mais rígido, a minha cama, mais aconchegante, e o lá fora ficou mais distante. Agora é tudo novo, de novo. E agora é quando eu retorno de onde parti. Sozinha. Agora, aqui dentro, o mundo é só meu. Pensando bem, nunca foi à toa ter merecido momentos assim. Cada um me entregou somente a mim, ao meu encontro comigo mesma. E agora eu já sou outro alguém, mais cheio de si, mais completo, cheio de respostas e traços buscados e alcançados por mim. Eu cresci, e sim, eu mereci. Atravessei as cordilheiras, cruzei pontes e subi os alpes. Subi e desci, com gosto. Me dediquei, com afinco, com paixão. Ao que acreditei que existia em mim, e não por meras certezas, mas por uma verdade absoluta e plena, eu lutei. Ainda sinto frio, ainda me assusto com o que não possuo controle, e ainda me entrego a momentos de choro soluçado, mas é com um gosto temperado de mim mesma que eu dou meus passos, confiante, plena, e segura de mim. Se modelei cada traço, não disfarço vaidade, e por isso ressurjo sempre bela, sem cerimônias de modéstia forçada. Medidas de tempo não seguem parâmetros, cada qual com o seu e boa sorte por aí. As minhas são somente minhas, e as sigo conforme o que anseio, não tente interromper o meu tempo, mandar ou desordenar. Se eu te parecer selvagem, fugidia, corriqueira, presença incerta...são influências desse espírito solto, tente perdoar. E vá levando assim, se o acaso também for amigo do seu coração, se você o ouvir baixinho, se souber ouvir.















quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Céu de estrelas minhas


"Cause all of the stars
are fading away
Just try not to worry
You'll see them someday
Take what you need
and be on your way
Stop crying your heart out..."

O céu de Londres é bem movimentado. É como se houvesse uma passagem entre o mundo de lá e o de cá, e por esse céu sem estrelas, entra de tudo. É um entra e sai de gente, é um entra e sai de sonhos, e nesse abrigo é onde eu me escondo. De repente me lembrei dos episódios de “Caverna no Dragão”, e se eu te contasse que entre todos eles, eu queria ser a menina da capa da invisibilidade, não seria em vão. Entretanto, é com certo desespero que te conto, meu amigo, eu sou o unicórnio, aquele que não consegue voltar pro mundo real, aquele que inclusive, não deixa que todos os outros voltem. “Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí”, nômade, “sem lenço e sem documento”, curtindo minha síndrome de Peter Pan, e eu vou indo por aqui assim sem muito rumo, sem muito compromisso, com muito pensar, pulso firme e sorte no ar. Não sei bem por que, mas deve ser por muito merecer, que no final, tudo me vem com muito acerto, encaixe perfeito, solução que faltava. Ouvi dizer que sou uma filha-da-mãe-sortuda, e respondi que o bem vem pra quem é do bem, e somente por isso existe um encanto mágico que me faz respirar aliviada nos finais. Todos os meus finais são prazerosamente o que eu sempre desejo, tudo se encaixa, tudo se completa, e eu termino em risos, às vezes em prantos, mas é de pura emoção. Minhas lágrimas combinam com Londres porque eu já cheguei aqui chorando, e não é que foi pra melhor? Se eu pudesse escolher, escolheria ser eu mesma todas as manhãs dos meus dias, e dormiria satisfeita todas as noites, sendo o que sou. Dá trabalho, me rende uma boa cota de pensamentos criativos diariamente e me exige uma boa pose de maioral, quando não caio no choro em momentos de cara limpa, sem máscara de fortaleza. Mas vale a pena. Só me encanto pelo que faz meu coração pular, e nessa mania intensa, eu me vejo feliz. Mais fácil do que ser feliz tendo de tudo, é se dizer e realmente ser feliz, tendo de tudo e mais um pouco de perrengues pelo caminho, e ainda assim, sorrir e fazer sorrirem. Eu não me orgulho somente do que construí, mas me orgulho mais ainda do que estou disposta a fazer crescer em mim. Alma clara, sorriso largo, espírito limpo, e sonhos nas estrelas que não existem por aqui...ou até existem e já se foram...estão indo, pouco a pouco, cada qual com seu sonho, cada qual com sua rota. Dói, mas eu aposto em reencontros, aposto na força dos destinos, no poder do nosso pensamento, no querer, e mais ainda, no buscar. É difícil deixar a Terra do Nunca, é difícil atravessar o portal pro mundo real quando o mundo dos sonhos é tão colorido, sonoro, e nos protege como uma toca, caverna, abrigo. Mais difícil ainda, é se esconder para sempre. Por isso, estou voltando. Essa vida de unicórnio não combina muito com minha cara à tapa, e meu ritmo maioral. Depois desse céu, existem outros céus, e por isso eu vou por aí, buscando céus que me preencham. Quando vejo o mundo, entendo porque eu ainda estou aqui. Meu querer é intenso, e minha busca é eterna dentro de mim. Conseguir é secundário, sonhar é necessário.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Viva La Vida!









Deve ser sina, karma, traçado predestinado, perseguição. Deve ser mudança certeira em qualquer roteiro que eu invente, deve ser um “viva La vida” entorpecente no meu caminho que eu não tenha escolhido. Deve ser um exercício pertinente no meu dia que não se acaba, deve ser, apenas deve ser. Não pergunte muito não, não tente entender. E não manipule as marionetes, não mude as peças do xadrez, não tente prever. Há de existir o passo torto que te tire de onde planejava, há de existir as linhas bem traçadas te esperando na estrada. Se fosse fácil, não seria eu. Se fosse eu, não seria previsível. E no final sempre sou eu comigo mesma, ainda que eu rode todo o globo mundial. E ainda existe lá nas entranhas aquele medo agoniante que me segue ainda que eu fuja a passos fugazes. E ainda há, lá perto dele, uma coragem emocionante, que me salva de qualquer temor, a qual alcança a minha mão estendida. E ainda há em qualquer momento, uma mulher com garras fortes, a qual se joga na vida tal como ela a convida. Portanto, viva La vida!
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Boa sorte, minhas meninas! Estarei para sempre, eternamente, aqui. :)





sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Rainha do infinito



"Quanto mais talentosa a mulher, mais indócil ela é."

William Shakespeare


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Dobrou a esquina e chegou na sua rua. Dali a pouco enxergaria a janela do seu apartamento e ficaria muito feliz se a luz estivesse acesa. Estava. Sempre tinha essa sensação boa, e de alívio, quando sabia que elas estavam lá, à sua espera, e que ela entraria em casa e teria risadas, perguntas sobre o seu dia, novidades de cada uma, conversas profundas, uma família. Em pouco tempo abriria o vinho que trouxera debaixo do braço, comprado no caminho. Em pouco tempo derramaria-se em lágrimas insóbrias de um choro rasgante, um desabafo a ponto de ser fulminante. Drama confesso. Um futuro incerto. Desejaria o pai que não viria, o amor que perderia, a mãe que sofreria. Drama, sabia. Calou-se. Verbalizar a cansava. Pensar então era tudo que sobrava.
Gostava de reconhecer os caminhos quando andava sozinha pelas ruas, sentia a liberdade batendo no seu rosto junto com o ar frio nos seus ossos e na pele clara, cada vez mais clara. Gostava de se sentir como se estivesse em casa, e mais ainda, de saber que não estava. Sentia um conforto enorme na distância da sua antiga vida. Aliou-se com esconderijos, e neles se hospedou. Deixou-se invadir pela paz do tempo sem dono, do reino sem trono. Não queria ser encontrada, perdeu três celulares e não foi à toa. Não queria ser achada. Sonhou ser inatingível e assim se tornou. Virou rainha do infinito e seus passos deixariam pegadas eternas nas estradas do desconhecido.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sangue quente

Foto: Flickr
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"É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela." Friedrich Nietzsche



É preciso queimar lá dentro de vez em quando. Aí a gente se renova e muda de casca, de capa, de cara. Aí, como que por muito gosto, volta a sentir o gosto de ter forma e conteúdo. De ser uma capa forte preenchida com um sangue quente e corajoso, que percorre por dentro como seiva bruta. Aí a gente volta a sentir frio quando faz frio, e calor, muito calor, quando está quente e se está vivo. Vivo e com mais certezas do que faltas internas, com mais preenchimentos do que lacunas vazias. Nada de neutralidades, nada de espaços nulos ou neutros. Aí faz um quentinho por dentro que emana em todos por fora, e você desfila por entre vontades, sendo muito mais do que um mistério no ar, mas sendo mais do que um segredo apenas para si mesma. Te conto um dia, se você esperar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Falta

Falta e somente falta. Um negro, um vácuo, um espaço, uma lacuna, uma multidão de vazios. Falta no plural, singularmente faltando de um, um tudo. Não, nem, nada, tão pouco, ao menos, ainda. Ponto. Posso pedir um próximo parágrafo? Esse me cansou.