sexta-feira, 30 de abril de 2010

Clara


'Ela é assim! Pronto.
Mas assim como? Explica!
Ela é assim um mix de tudo que se possa imaginar dentro de uma grande capacidade de apenas não ser nada em definitivo. Ela é aquilo que não consegue se encaixar em moldes pré-existentes, parece que ninguém nunca foi antes dela. Ela se incomoda com isso, às vezes, muito.
Ela é cheia de sentimentos, parece que suas experiências se manifestam é no dorso do seu colo, e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa. Mas não tem modo, não existe maneira que a faça ser diferente. E ainda, graças a Deus, ela é diferente. Algo que pesa e que tem o dom da leveza, algo que chora e que se manifesta em sorrisos, algo de forte, mas que se desmancha quando encontra a água.'

(Clarice Lispector)

*

Ando buscando definições por palavras alheias, porque as minhas andam ríspidas, encabuladas, desajeitadas. Por hoje, fico com Clarice.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

'til the end...keep giving it some heart!



"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. [...] E se ela se afogar, se recupera"

*

E às vezes não é fácil acordar ainda no escuro, e não é fácil limpar a casa dos outros, cuidar do filho dos outros, servir no casamento dos outros. Não ser a convidada. Ser quem serve aos convidados. E não é fácil ouvir os "nãos" do caminho, nem é fácil se despedir de quem levou os seus "sins". E às vezes dá vontade de sair correndo, de voltar pro conforto, pro aconchego, pro "bem bom". Vontade de, no mínimo, lutar de igual para igual. Vontade do trabalho que pede pelo esforço da cabeça, e não pelo esforço do corpo. Não é fácil correr atrás de ônibus quase todo dia, e também não é fácil carregar sua casa nas costas a cada vez que for se mudar de casa. Não é fácil não ter uma casa fixa, sua. Assim como não é fácil recomeçar tudo novo, de novo, e de novo e de novo. Não é fácil ver os amigos partirem, e até para gente das mais extrovertidas, uma hora cansa o ato de "fazer novas amizades", quando nunca se sabe ao certo até quando essas novas amizades vão durar. Se vive um Big Brother da vida real. Amizades rápidas, conexões rápidas, decepções na mesma medida. Relações passageiras. E um coração cansado, um corpo cansado, mas ainda de pé. Batendo, pedindo, exigindo, que você ainda dê tudo de si. Que você ainda busque por cada um dos seus objetivos com a mesma garra do primeiro dia. E que se lembre, no último, no quanto valeu a pena ter lutado tanto para se tornar quem você mereceu ser.

Eu sei que poderia ter dito tudo isso metaforizado, enfeitado, a dor em poesia, mais fácil de ser digerida. Mas eu não quis. Quis assim, nua e crua. A dor em letra maiúscula. E me dei o direito de escrever assim, pra me dar o direito de sentir assim.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Paz



"Eu me pinto porque estou muitas vezes sozinha e porque
sou o assunto que conheço melhor".
Frida Kahlo

*

Esse seria um daqueles momentos sobre o qual eu ainda pensaria sorrindo, e esse seria, certamente, um daqueles momentos pelo qual eu ainda choraria.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Desassossegada


"Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.

Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.

Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."
(Martha Medeiros)


*



Eu não sei, camarada. Mas me pego pensando. Constantemente. É quase um vício. Um vai e vem sem mais delongas. Imperativo, sem preguiça. Rápido, criativo, perdido em si. E hoje quando vi o pôr do sol pela janela pensei naquele imenso prazer das coisas simples. Como ver o sol se pôr, como ver peixe em volta das pedras no mar, como mergulhar os pés em areia morna, como mergulhar você mesmo em ondas calmas e quentes, como ouvir pessoas falando apenas a minha língua ao meu redor. Por muito tempo os prazeres contrários a esses foram mais excitantes. Ver a neve cair, o frio me desafiar, a grama ficar verde, a flor voltar a reinar. Pessoas falando tantas outras línguas ao meu redor. A graça do mistério, o mistério do desconhecido. Qual rua eu encontro se virar aquela esquina? Tambem não sei, pra mim ela é novidade. Qual língua é essa que você esta falando? Provavelmente alguma que eu não entendo. Quem é você, olhando pra mim? De onde vem? Como eu te pareço? De onde você acha que vim, e porque você esta aqui? Pessoas e mais pessoas e mais pessoas. Desconhecidas, com vidas desconhecidas. Rostos estranhos, anonimos, nunca antes vistos, e que jamais sequer vou voltar a rever. Estranhos. Completos. Não compartilhamos cor, credo, criação. Não compartilhamos raça, religião. De parecidos, talvez somente o coração. O que vem depois daquela esquina, o que tem do outro lado da ponte, quem vou encontrar na próxima noite? Curiosidade. Intrigante isso de não saber, quanto mais se descobre, mais se quer ter. Por isso que eu digo: com tudo que eu busco, ainda me acompanha o que é antigo em mim. Resta descobrir se isso é pra bom, ou pra ruim.

Broken bones


"Picking up broken words
Snipping the tips off
Grinding down the long ones
That wind around your eardrums

Dangerous plastic words
For crowd dispersal
And dumb dumb words
That could blow your head off

One fine day you'll sing
Your inevitable love song
Inevitable lie song
Inevitable cry song

Time bends broken bones..."


--

E então eu começo tudo de novo. Refaço as rotas, desfaço os armários, esvazio as gavetas. E a partir daí, são horas de sono perdido, porém horas de tijolinhos construídos, ganhos. Atalhos, distâncias, tudo calculado quase como uma equação matemática. Anoto, não sei quantas vezes, o 2 mais 2 igual a 4. E repito mais uma vez, só pra conferir. Plano A, B, C, D, e o E pro último caso. Consulto horóscopo, tarô, sorte, previsão do tempo. Consulto mãe, peço benção de vó, aviso as amigas. Ouço conselho, opnião. Ouço crítica. A minha própria, queimando lá dentro. Mas é pelo lado de dentro, que eu escolho, decido e aposto, mais uma vez. E se talvez, por algum erro minunciso de percurso, tudo pode vir a acontecer fora do que planejei, cai o céu, o chão, o choro. Mas haviam pistas, não? Garantias? Tampouco. E aonde foi decretado que a gente não pode discordar de evidências? Tentar o difícil, conseguir o improvável? Me fragilizam os ossos tamanha descrença. "Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?". Que mundo é esse que sonho é confundido com delírio, que busca é confundida com inconsequência? Eu, definitivamente, não sou a pessoa mais indicada para moralismos e convenções sociais bem seguidinhas. Em alguma outra vida, talvez eu tenha sido a fugitiva da prisão, uma bruxa queimada, uma rebelde sem causa, a ovelha negra ou a vítima de exclusão. Mas eu, certamente, sou a mais indicada para riscos e desafios, sem vergonha, nem de quem me julga, e nem da minha própria crítica que, vale a pena ressaltar, não é das mais bondosas. Eu penso no que você pensa sobre mim, penso no que você pensa e não diz. Pra não me machucar, mas que te faz revirar os olhos - achando que não vejo - quando me julga. E só de pensar assim, talvez já esteja eu mesma me censurando, me desacreditando, e não é bem do meu temperamento deixar de acreditar no que quero. Quando chegamos a esse ponto, chega a hora de começar a acertar. Por ninguém além de mim mesma, saiba você, minha trilha não foi escolhida pra te agradar.

sábado, 17 de abril de 2010

Tchau, xuxu!


"Xuxu vou me mandar!
é, eu vou pra Bahia
talvez volte qualquer dia!
como pode alguém ser tão demente, porra louca, inconsequente
e ainda amar?
ver o amor
como um abraço curto pra não sufocar!"

meu


Eu tenho uma vida secreta repleta de estrofes. Eu tenho poesia escondida no meu sorriso, eu tenho ausências disfarçadas em piscares de olhos, e música cantada em passos largos. Eu tenho cabelos que dançam no vento e tenho sonhos que me carregam pra longe. Eu tenho um pouco de sol pra cada dia escuro, e um pouco de noite pra cada momento que tomo posse. Eu gosto da noite. Me movimento sobre ela com uma intimidade antiga, tanto quanto me entrego ao sol com prazeres que me consomem a carne. Eu sou um mundo entupido de mim mesma, sou perguntas que eu mesma respondo, e sou respostas que o tempo me deu. Sou um olhar inquieto e sou uma coceira na alma. Eu tenho uma vida repleta de filmes e tenho o papel principal mais inusitado. E eu gosto. Me derrete a alma, alimenta, afaga. Eu escolheria mil vezes, ter mil vezes o que tenho de mais meu. E traria de novo pra perto de mim tudo que ilumina esse olhar seu.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

último romance



"Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
pode ser cruel a eternidade
eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer mas chega de insistir
caberá ao nosso amor o que há de vir
pode ser a eternidade má
caminho em frente pra sentir saudade"


*

Eu pegaria o Marcelo Camelo. Por um único motivo: o admiro por opostos.

1. Ele declara solidão sem vergonha (Entre outros sentimentos que, a maioria, não gostaria de expor nem em melodia).
2. Ele namora a Mallu Magalhães (sem maiores comentários, sugiro que assistam ao video abaixo), e se derrete por ela. Às vezes, o amor me espanta.

Mas eu acredito na teoria de minha amiga psicóloga, que diz que ele já tem tanto, que precisa dividir. Eu dividiria também, se ficasse assim tão cega pela leveza de alguém.

De repente é isso que anda faltando...dividir riqueza de saberes, aceitar os avessos de cada "nós" dois juntos. Nós. Assim, sem impressionar, já impressionando tanto porque há tanto pra se criticar.

Pois já dizia Renato Russo - e contra fatos não existem argumentos: "e quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?"



**

http://www.youtube.com/watch?v=DzUUOPxdvH0&feature=related

terça-feira, 13 de abril de 2010

Desacordo acordado


Era de se sentir livre que ela precisava, era de fogo que se alimentava. Com sol e calor, inspiração não faltava. Andava vazia de tudo, ainda que, com pensamentos tão cheios de tudo. Carregava uma mochila pesada, um sorriso murcho, carregava dias cinzas nos quais não se encaixava. Virou Maria Reclamona, Sra Rabugenta, e nem se reconhecia naqueles olhos profundos. Nos rascunhos, nada que agradasse. Tanta coisa apagada, tanta noite sem graça. Dias e dias dentro de casa, ansiando por sua sorte perdida, aonde estava? Aonde estaria? Em que passo retornaria? Inquieta. E nem ela mesmo se aguentava. Sabia não ser drama, não dessa vez. Sabia não ser inteira, não dessa vez. Sabia que precisava ser, voltar a ser, completa. Plena. Feliz. E com os raios de sol vieram o caminhar curioso, e com o azul do céu voltou o rebolado ansioso.

*

Sol e sorte fizeram parceria, acordo, sociedade, e andam de mãos dadas. Quando um não se mostra, o outro se recusa a fazer sala desacompanhado. Portanto, agora, ando eu recebendo os dois com muito prazer.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

De lua e estrela



"Menina do anel de lua e estrela
Raios de sol no céu da cidade
Brilho da lua oh oh oh, noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade
Manhã chegando
Luzes morrendo, nesse espelho
Que é nossa cidade
Quem é você? qual o seu nome?
Conta pra mim, diz como eu te encontro
Mas deixa o destino, deixe ao acaso
Quem sabe eu te encontro
De noite no Baixo..."
(Caetano Veloso)


*

Menina do anel de quem o deu, menina de lua e da estrela que brilha por ela. Tudo que pisca ou brilha, e que convida. Tudo que toca, transborda, e instiga. Tudo que soa, e sons são seus aliados. Tudo que se guarda em cheiros e risadas repetidas, e se se repete é porque foi resgatado. Menina de resgates, de não deixar ir. Menina de sonhos e desejos irrealizados, pelo prazer de criar novas vontades sempre. Menina de portas, de janelas, de estradas. Menina de idas, despedidas, voltas, revoltas. De água, de fogo, de céu e inferno. De terra, de vento, de lua e de estrelas. De Marte, de Vênus, de Júpiter, dos anéis de Saturno. De dia, da noite, de começos e nunca de finais. Final, so se for da tarde. Desse, se lambuza. Luz do sol é o poder da menina. Não foi à tóa que nasceu na Bahia. E se "toda menina baiana tem um encanto que Deus dá", deve vir de sua estrela, da lua, do céu e do mar. Não é qualquer uma que nasce filha de Yemanjá.

Primavera




"Meus dias são sempre como uma véspera de partida. Movimento-me entre as pontas como quem sabe que daqui a pouco já não vai estar presente [...]"

*

Tenho visto sorrisos em céus rosas e olhos brilhando em gramas verdes, tenho visto vocês ao meu lado e visto a mim em muito de vocês. Tenho visto contornos em tudo em que estamos, e eles são bonitos, vistosos. Serão uma doce memória mais tarde, quando eu abrir a caixinha de tudo que traz saudade. Prometo mandar um pouquinho pra vocês também, assim relembramos juntos de toda essa faísca acesa nesses dias em que o corpo da gente pega fogo, e o tempo traz um vento brando pra acalmar, a paz morna dessa intensidade assanhada ao nosso redor. Vai ser engraçado lembrar, eu sei. E vai dar nostalgia também. E vocês vão saber que aonde eu estiver, carregarei esse momento como se pudéssemos, sabendo não poder, viver tudo outra vez.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pane na caixa preta.


"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir?"

Eu te amo - Chico Buarque

**


E eh porque ando assim buscando a cura do caos, e eh porque ando com a cabeca de cabeca pra baixo, e eh porque "ando andando" empenada em direcao errada, que me saem agora os piores escritos, os menos criativos ja vindos! E tenho dito: deu pane minha gente! Nem a licenca poetica eh minha cumplice, nem ao menos me perdoa minha auto critica criativa! E meu bom senso entao, anda metendo a cabeca entre as pernas pra esconder a vergonha. Ue, o que aconteceu? De repente perdi metaforas, me perdi em minhas proprias palavras, e seria muito disparate eu tambem me perder na minha propria lingua, e ja nao ter mais aquele poder de expressar tao bem tudo que sinto, assim cuspindo? Andei buscando inspiracao no amigo Chico, porque pra merecer uma musica dele, eu ate queimaria meus navios. Poesia eh assim meu amigo, ou toca ou nao toca, e nada meu tem tocado ultimamente. Por falta de autoria propria, venho apelando pra autoria alheia. Control c, control v. Ao menos me define. Nao sendo por mim mesma em palavras de deslumbres, que seja por outro alguem mais capaz no momento. Mas me incomoda, sabe? Nunca gostei de nao me definir, de nao dizer. E dizendo, nunca quis me expor de qualquer maneira, uma coisinha assim qualquer rabiscada e mal combinada. Nao, me encanta a palavra cantada, a palavra rimada, a palavra traduzida do que penso e sinto, implicitamente EU - quando quero fazer charme - explicitamente, quando quero ser dura, forte, direta. E agora, cade? Evaporou-se poesia branda, fugiram os versos em compasso, mediocres pedacos de frases incompletas esperando fim.

* Para quem nao sabe, a metafora por tras da queima de navios significa a impossibilidade de retornar, é ter aquele caminho escolhido como único.
Que nao seja caminho unico esse meu momento nao inspirado, e que nao seja uma ida sem volta esses pensamentos sem fe em mim mesma, e que nao seja impossivel de retornar da minha loucura em formato de nó cerebral.

Sem pontuacao, correcao gramatical, ou qualquer coisa do tipo. Apenas por hoje ganhei o aval da burrice. Me deixe em paz, perfeccionismo maldito!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Imigrante di mierda

"Vamos sair
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
Esperamos que um dia
nossas vidas possam se encontrar

Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir."


**


Eu, mulher feita, também não tenho dormido. Tem um comichão de desassossego consumindo as horas escuras, quietas, caladas, e que deveriam ser sossegadas. Vontade quando bate não pede aprovação, ela apenas quer. Eu também sempre fui de bater o pé. Se eu fosse um sentimento, seria uma vontade. Se eu fosse invisível, você me sentiria tomando conta dos seus sentidos, do seu sistema nervoso, impregnando todo seu corpo de "querer". Mas o quê? O que você quer eu não sei, mas sei bem tudo que me move. Vontade move o mundo, move as pessoas, as galáxias. É por vontade de ver o sol e de também ver a lua, que a Terra gira. Foi por vontade de Romeu, que Julieta fingiu morte e no final, de fato se matou. Foi por vontade de chegar na Índia que Colombo chegou na América, foi por vontade de chegar em algum lugar, que eu cheguei aqui. Vontade é sentimento que tem posse. Posse do que quer, e do que vai ter. Vontade é id, é obstinada, é ousada, é criança birrenta que ignora perigos, que não se interessa pelos "contras" e só aceita os "prós". Vontade tem audácia, e raramente dá sossego. O que sei é que essa vida de imigrante de mierda tem lá seus altos e baixos, venho aprendendo dia após dia. Mas o que mais sei é que nada é mais meu, do que o que ficou pra trás, e que agora me cutuca com agonia.

Chegada



vou colocar a mesa na varanda
para esperar sua chegada minha criança
vou lhe preparar muitos doces e presentes
quero declarar em toda a festa... docemente
venha com seu vulto arrebatado
com seu jeito encantado
com seu sorriso largo
venha trazendo só seu corpo
suas lembranças na memória
dessa peregrinação
venha com a calma das areias
venha com seu corpo de sereia
sem sentir qualquer remorso
sinta no aroma do caminho
a sutileza desse ninho que lhe aguarda por amor
saiba olhar para frente da varanda
onde o gramado se encanta
com as flores que plantei
queira ter nas mãos um lindo pássaro
e lhe ensinar todos seus passos
além de tudo que aprendeu
o senhor do Tempo é seu amigo
Ele sabe que é fatídico alguém se rebelar
pois ele mesmo já tentou tantas vezes
querendo não ser mais o Tempo
nem tão pouco obedecer
alegando que é escravo e que em tudo tem um rasgo
por onde passam seus segredos
mas a saudade não perdoa e lhe deu uma tesoura
para tentar fazer dos rasgos outros tantos caminhos
nesse entrecortado simples destino
quem saberá compreender...
quem saberá se defender?
a certeza é que em tudo há brincadeira
há de trocar a tristeza por um doce de alecrim
quero recordar a sua infância
e trazer outras cortinas onde possa se esconder
quero lhe amar completamente
como alguém que lhe entrega
muito mais do que possa saber

Yanis Fontal

*

Eu sou feita dela. E esse foi feito pra mim.

domingo, 4 de abril de 2010

missing


Meninas...

Sinto falta de espalhar ovinhos para vocês procurarem...
bjo
yanis

*

E eu sinto falta de achá-los.
A sensação de que eles estão espalhados ainda existe, você os deixou pra que encontrássemos. Ainda escuto o eco da sua voz dando pistas, ainda pressinto se está quente ou frio, perto ou longe. E de pressentimentos e intuiçoes eu vou indo...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Dog days are over!


"Happiness hit her like a train on a track
Coming towards her stuck still no turning back
She hid around corners and she hid under beds
She killed it with kisses and from it she fled
With every bubble she sank with her drink
And washed it away down the kitchen sink
The dog days are over
The dog days are done
The horses are coming
So you better run
Run fast for your mother, run fast for your father
Run for your children, for your sisters and brothers..."



Não, ainda não estão, mas eu já posso sentir. Sinto o calor chegando, os cheiros e tatos. Sensações conhecidas, antigas, um pouco esquecidas por agora, é verdade. Dá um medo de voltar a conhecer, um frio na barriga que me faz sofrer. Mas tem momentos que ficam lá esperando pra acontecer, adiados, enganados, e não desistem da gente até nos arrastarem de volta pra onde devemos recomeçar. Credo, parece que me persegue como praga de plantação! Então por agora é: fôlego, pulmão, coração, e adeus vida de cão! Embora eu só acredite quando vier a ser.