quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Resposta ao Julgamento.



"O frio na barriga, as pernas bambas, o coração que ora dispara, ora desfalece, são sintomas de eros (De onde derivou a palavra "erótico" em português). É o amor que se confunde com o desejo. O apaixonado tem certeza de que ama o outro, mas na realidade projeta o seu desejo nele e ama essa projeção. O outro não pode se afastar, ter múltiplos interesses ou querer partir, porque sua obrigação seria estar sempre a serviço do apaixonado. O amor obsessivo é emocionante mas pouco feliz. Não é à toa que a palavra paixão significa sofrimento, daí a "paixão" de Cristo não se referir ao amor que Ele tinha pela humanidade, e sim ao imenso sofrimento que suportou antes de morrer.

O amor apaixonado pode terminar em sofrimento e desilusão ou transformar-se em PHILIA, um amor mais generoso, com espaço para acolher diferentes realidades. Embora menos excitante que eros, philia é mais feliz e duradouro. É o amor do bem querer que existe entre pais e filhos, entre amigos, entre irmãos e nos casais que há cumplicidade entre o homem e a mulher. Um amor para compartilhar alegrias e tristezas da vida com confiança e intimidade, que deixa espaço para o exercício das virtudes: fidelidade, generosidade, compaixão, humor, etc.

Eros é egoísta, philia não. Minha mulher e eu costumávamos caminhar juntos quase todas as manhãs. Fizemos isso durante vários anos. Era gostoso porque, além do exercício, tínhamos uma hora completa de boa conversa, sem interferência dos afazeres cotidianos, ou das crianças. Mas desde a infância ela tinha um sonho: ter um cavalo e aprender a montar. Finalmente pude lhe dar um cavalo de presente. Agora ela monta pela manhã e eu perdi minha companheira de caminhadas. Em compensação, sua alegria me faz feliz."

Do livro: "Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena". Flávio Franklin.


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O risco que se corre por ser alma transparente, é nem sempre ser compreendido, embora seja contraditório, uma alma assim de intenções tão claras, não ser vista em toda sua luz. Almas claras costumam falar além do recomendado, sorrir além do esperado, sumir quando menos se espera, porém estar sempre do lado, de quem tiver merecido. Alma clara tem paixão pelo nascer do sol, e venera a sua luz laranja quando ele se põe. Quando não a tem, busca luz de vela, luz de abajour em quarto escuro, qualquer claridade que te deixe a mostra cada traço de pele, cada traço de vontade, de sorrisos, cada traço de pretensões, sonhos em coleções. Aí um dia desses ouvi dizer que deveria desistir ou mudar de estratégia. Trocar a rota, mudar o repertório, escolher outro time, outro sabor preferido, outro cheiro bem quisto, outro sentimento querido. Pra completar, ainda ouvi também, que na vida que levo, não crio vínculos, que o tempo esta passando e a hora de criá-los e eternizá-los, é agora mais do que nunca. Não me conformei. Remoí em mim mesma por alguns dias, revoltada, pensei numa resposta comportada, mas não é bem de mim ser comportada com as palavras. Portanto, venho aqui educadamente, e sem qualquer pretensão de convencer ou de me explicar, apenas para te contar Sr. Julgamento Alheio, que sim, eu tenho uma vida incerta à vista dos outros. Hoje estou aqui, amanhã posso não estar. Concordo, que com tanto espírito aventureiro e sede de mundo, não tenho como fazer promessas de que estarei presente fisicamente do lado de alguém pelo tempo que esse alguem espere. Meu futuro é um mistério sobre o qual eu não quero te contar dos códigos que o fazem entendê-lo. Mas, o que te garanto, é que justamente por não haverem promessas, é que existem as pessoas e momentos eternos. Livres. Podendo estar aqui hoje, amanha não, e ainda assim estarem aqui, em sentimento, em pensamento, em presença distante. Eu acredito no amor, meu caro. Eu acredito na força do desejo, desse sentimento por vezes inconstante e ainda misterioso que é o amor. Acredito na sua força, mais que a força apaixonada de uma paixão, puramente paixão. Paixões passam, amores sobrevivem. Olhe em sua volta e veja, não precisa de muito para perceber. Ou precisa? Talvez sim, caso contrário, não estaria me julgando incapaz de estabelecer laços, nomeados por você como "vínculos". Sabe, eu não gostei. Tanto quanto não gostei do dia em que me apontaram como adepta ao "desapego". Tavez eu não devesse me importar tanto, mas um lado revolucionário dentro de mim grita por defesa, ninguém gosta de ser mal compreendido. Decidi então, que a partir desse ano, não haverão maiores esforços a favor da boa compreensão do que eu sou, penso, e sinto. Quem realmente conhece a mim, conhece o enorme apego e eternidades que acompanham a minha alma leve, aonde quer que ela vá, viva, esteja, ainda que eu vá embora no dia seguinte. Após 10 meses completos hoje, o que essencialmente pude constatar nesse tempo em que estou "longe", é que eu sou capaz de absolutamente tudo que anseio e desejo. E para completar a coleção de aprendizados, posso dizer que é justamente na distância e nas dificuldades que descobrimos quem sempre esteve aqui de verdade. A distância é cruel, meu amigo! Ela te joga na sua cara quem realmente te tem como tudo aquilo que se dizia, ou não. E se desgarrar é consequência que dói, embora o meu sorriso seja soberano e no final eu acabe provando a quem preciso, o quanto posso estar presente ainda que ausente. E o vice versa é a prova dos nove. Por isso eu digo: viva! E não se importe com o futuro. Quem for mesmo seu, estará no mesmo lugar. Se importe com você, com sua força, sua coragem, seu poder de ser o que quiser. E quer saber? Não se culpe por tanta transparência. Feio é ser escuro, é ter alma encoberta. Não queira parar a chuva, não ignore o sol. Viva conforme as estações, e cresça conforme as experiências. No final, haverá de dar certo, e tudo vai se encaixar. Os meus planos são muito meus, e não tem que os tire de mim, me custe o que custar! Com licença!

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