quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Hein?


"Quando já não tinha espaço pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha sem ser tua

Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranqüila daqui
Lavar os degraus, os sonhos e as calçadas

E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver

Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca

E mesmo que em ti me perca
Nunca mais serei aquela
Que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela"


**



Faltando pouco para completar um ano fora, me peguei com saudade de ouvir musica nacional. Nacional nossa, minha, dai de voces. Por falta de sorte, hoje eh quarta-feira de cinzas no Brasil, e principalmente em Salvador, o que se escuta eh a disputa pela musica mais tocada no carnaval, e somente por ai ja se pode imaginar que a selecao das "mais mais" nao sao letras que cheguem sequer aos pes de um Chico Buarque, nada de MPB ou Bossa Nova, ou nem mesmo dos pops mais moderninhos. Pelo que eu ouvi, os hits do momento sao o "Rebolation" do Parangole, e o "Vale Night" do Asa de Aguia, e antes mesmo que eu pudesse descobrir - assustada, eu diria- qual seria a "bam bam bam" do Chiclete com Banana, desisti de continuar conversando sobre isso. Sim, eu sinto saudades do meu pais. Muita saudade da alegria, das praias, comidas, do calor, do povo, de coisas que nunca existirao em nenhum outro lugar. A minha infancia ficou la, o amor maior que existe em mim esta la, em cada uma das minhas irmas, na minha mae, vo, tias, e ate no cachorro e na empregada. O Carnaval, sem duvidas, eh uma festa maravilhosa, que eu sempre gostei demais. Mas hoje, quando digitei "Rebolation" e "Vale Night" no youtube, nao vou mentir que me assustei. Ainda nao sei ao certo exatamente com o que. Se foi com a pobre producao musical, ou se foi por saber que, se eu estivesse la, iria estar achando o maximo tambem. E no final das contas, o que mais me serviu como uma chacoalhada, foi o fato de ter visto aquilo e ter pensado: "meu deus, tem TANTO tempo que eu nao sei o que eh isso! Parece TAO longe de mim", e nao tem nem um ano que eu sai de casa! Fiquei surpresa como dimensoes de tempo sao variaveis, como em UM ANO tudo muda TANTO, muito mais aqui dentro do que la fora. Afinal, pelo visto, tudo la continua realmente igualzinho. O mesmo axe e pagode carnavalesco, a mesma aflicao pelo verao e suas perdicoes, o mesmo fascinio pelo culto ao corpo, cortes de abadas, maquiagens, purpurinas e falta de compromisso com o que acontece antes do Carnaval, porque, obviamente, ate hoje que eh a triste quarta-feira de cinzas, nada se realiza pra valer. Todos os planos, promessas pros santos, dietas, namoros, trabalhos e estudos, ou seja la mais o que for, so comecam depois do carnaval. E enquanto todo esse baticum estava rolando por la, eu estava aqui envolta em jaquetas, moletons, casacos...longe dos 36 graus que indicavam estar fazendo no Rio de Janeiro, segundo o jornalzinho do metro londrino. E falando assim, pode ate parecer que eu nao estava tao feliz quanto os nao sei quantos milhoes de folioes saltitantes pelas ruas de Salvador...mas sinceramente, eu diria que estou ainda mais feliz do que isso, e que hoje, quarta-feira de cinzas, nao passou de mais um dia cinza que esta esperando ansiosamente pelo verao europeu, mas no entanto, aqui por dentro tem alguem multi-color, que nao precisa de trio eletrico pra fazer da vida o seu proprio carnaval. Eu adoraria um trio eletrico turbinado de frente pro Big Ben, atravessando em frente a London Eye. Adoraria que o calor chegasse amanha, que os biquinis das europeias nao fossem tao grandes e eu nao precisasse encomendar biquini por amigos de amigos que vao vir do Brasil. Veja bem, nao vamos ser hipocritas...se eu estiver no Brasil no ano que vem, serei a mais serelepe do carnaval baiano, tenham certeza. Mas por enquanto...enquanto me sinto tao de fora, de longe, distante, me sinto tambem no direito de avaliar com olhos criticos o que tambem ja fez parte do que eu sou. Engracado como as vezes eh preciso tao pouco para percebermos o quanto crescemos pelo caminho...

Pra completar, pesquisei num site de musicas quais seriam os artitas e as suas musicas mais tocadas do momento (ignorando os hits carnavalescos), e descobri essa pessoa ai: Maria Gadu. Simples e serena. Recomendo. Faz bem limpar os ouvidos com boa musica de vez em quando!

Bem, e ja que faltam por aqui as melodias que me soam familiares, ja que falta a propria familia que me soa como a mim mesma, e ja que faltam aqueles cheiros, gostos e abracos antigos, nos bracos de pessoas antigas na minha vida...hoje tambem vao faltar os acentos no texto, pra combinar, e pela falta do teclado com aquele bando de tracinho familiar.

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