terça-feira, 10 de agosto de 2010

ainda aqui


Ainda estou aqui na nossa cidade, aonde vocês já não estão, aonde sempre estaremos, em pedaços de mosaico, por essas ruas encantadas e cheias das nossas almas andando pelos cantos daqui. Nao é apenas o que levamos que traduz a importância de algo, é também o que deixamos pra trás, e prevendo a dor da perda, passeio em frente aos lugares por onde estivemos, tentando encontrar um pouco do que foi nosso pra poder salvar no peito, na corrente de lembranças, no pensamento de saudade que um dia vai vir visitar. E ainda posso escutar nossas risadas e sentir que a cadeira na qual você sentou ainda está quente, e eu reconheço que veio do seu corpo, porque era esse mesmo quente que esquentava meus momentos em que o frio espetava os ossos. Aquele morninho de você ainda está nos abraços que demos, e aquele riso solto ainda está nas piadas que contamos, ainda posso lembrar. E com o tempo, o que deixará de ser lembrança pra ser criação da minha mente? E se eu chegar a me perguntar o que de fato aconteceu ou o que já foi minha criatividade que inventou pra dar brilho nas nossas histórias? Dizem que essa é uma grande função da nossa mente criativa, dar graça ao que queremos que tenha graça, preenchendo de beleza os momentos na memória. Antes que aconteça, quero registrar aqui, pro caso de que um dia eu esqueça, que foi tudo lindo em proporções exageradas sim, e que se um dia parecer que estou por aí contando estórias tal qual um Forrest Gump, que seja dito agora: foi tudo pra valer, até quando houve caos, houve poesia. E até quando houveram vazios, houve ternura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário