quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ausente


"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa?"
[Lenine - É o que me interessa]


*

Eram dias de não saber. Não saber quando passaria, ou melhor, quando a alma voltaria, porque ouviu dizer que ela viria mais tarde, chegaria com calma, atrasada, e se assentaria no corpo doente de sua ausência, não era a toa que estava de cama. As coisas, elas não faziam sentido, em sua mente e nem nos seus instintos. A chave de casa não abriu a sua fechadura, as gavetas não lhe cabiam de serem lembradas, aonde guardava? Aonde encontrava? Os dias lhe passavam lentamente, numa angústia de mal passar, era doído não saber quando passaria, ou melhor, quando ela voltaria, a alma atrasada que não quis voltar. Uma montoeira de remédios se acomodavam no seu criado mudo, e ainda mais muda ela sentia a vida passar com gosto de xarope de cabeceira. Longos silêncios ardidos de febre, embora fria, estava quente. O sol, em auge de galanteios, a convidara a voltar, e agora era difícil suportar o desencontro, já que havia sido traída por seus encantos, que a atrairam, e quando veio; que enorme desencontro! Lágrimas corriam pela janela, porque lá fora também não faziam bons dias. Nada estava bom. Tudo era não saber e isso te matava pouco a pouco, te tirava brilho e a mágica de acreditar. Pobre passarinho na gaiola, tão apático e sem canto. Sem cores no bico, nas penas, no ar.

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