sábado, 26 de setembro de 2009

Meu amor é uma cidade.


“Agora eu era herói, e o meu cavalo só falava inglês...
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões...
e você era a princesa que eu fiz coroar,
e era tão linda de se admirar, que andava nua pelo meu país.
Agora era fatal, que o faz de contas terminasse assim,
pra lá deste quintal, era uma noite que não tem mais fim.
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?”
Chico Buarque - João e Maria


***


O meu amor tem cores diversas, cores que só eu vejo. O meu amor tem um cheiro que só eu sinto, e tem uma temperatura que só eu amo. O meu amor é uma cidade. É o meu andar mais meu, é o meu mundo completo, ainda que incompleto. E ainda que me consolem, que me digam que também já a viveram e a ela sobreviveram, eu não me sinto menos triste. Não me refiro a chegadas, agora sou somente partidas. A despedida é cortante no meu peito, não há frase que me acalme, não há consolo que me alegre. Tenho sofrido de amor. Um amor puro e terno, de uma cidade que ganhou a mim. Há dias choro de uma saudade antecipada. Não me imagino mais sem as ruas de Londres e sem a independência que me carrega por elas. Não me imagino mais sem esse ar poderoso, que me leva e me traz tanto acontecimento intenso. Então tenho sofrido. Tenho revisto todas as fotos, re-assistido todos os vídeos, ido mais uma vez, em cada lugar conquistado. Todos os dias, tenho andado pelas ruas tentando arrancar delas o que quero guardar comigo, como se fosse a última vez. Porque ainda que eu volte um dia, não será mais essa época, essa paixão, nem eu serei a mesma. Tenho chorado com todas as minhas lágrimas, sentindo lá dentro aquele aperto que dói quase uma dor física. Não me acostumo com perdas, embora não me seja desconhecido esse sentimento de “deixar de ter”. Deixar de ter Londres vai ser quase como deixar de ter a mim mesma. Nunca fui tão intensa quanto fui aqui, e nunca fui eu mesma quanto tenho sido a cada dia, nesse canto longínquo, no qual só não posso ficar, porque não nasci pelos lados de cá. Então sigo nua por aí, desprendida de mim, porque pela a minha lei, a gente ainda é obrigado a ser feliz, ainda que eu esteja doente de amor. É, doente, literalmente doente, como nunca tinha ficado desde que saí de onde nasci. Se despedir tem virado um hábito ao qual eu não consigo me acostumar. Contudo, me parece comum sumir no mundo sem avisar, e sendo assim, em qual canto eu vou parar? Haja coração! Jogo pro alto o que a vida for fazer de mim. Até breve, porque “adeus” é doído demais para quem se despede de um grande amor.

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