sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dona do tempo


"Deixo tudo assim, não me importo em ver a idade em mim. Ouço o que convém, eu gosto é do gasto. Sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado. E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria? Ah, tanto faz...e o que não foi não é! Eu sei que ainda vou voltar, mas eu quem será? Deixo tudo assim, não me acanho em ver vaidade em mim. Eu digo o que condiz. Eu gosto é do estrago. Sei do escândalo e eles tem razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo. E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado? ahhh ora se não sou eu, quem mais vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão! Ahhh... se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição. Vou levando assim, que o acaso é amigo do meu coração...quando fala comigo...quando eu sei ouvir."



O velho e o moço - Los Hermanos




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Agora o tempo esfria e as folhas começam a cair, amarronzadas, gastas, perdidas ao vento. Não me comparo a elas, embora também me deixe levar pelo vento muitas vezes. Agora o vento é mais rígido, a minha cama, mais aconchegante, e o lá fora ficou mais distante. Agora é tudo novo, de novo. E agora é quando eu retorno de onde parti. Sozinha. Agora, aqui dentro, o mundo é só meu. Pensando bem, nunca foi à toa ter merecido momentos assim. Cada um me entregou somente a mim, ao meu encontro comigo mesma. E agora eu já sou outro alguém, mais cheio de si, mais completo, cheio de respostas e traços buscados e alcançados por mim. Eu cresci, e sim, eu mereci. Atravessei as cordilheiras, cruzei pontes e subi os alpes. Subi e desci, com gosto. Me dediquei, com afinco, com paixão. Ao que acreditei que existia em mim, e não por meras certezas, mas por uma verdade absoluta e plena, eu lutei. Ainda sinto frio, ainda me assusto com o que não possuo controle, e ainda me entrego a momentos de choro soluçado, mas é com um gosto temperado de mim mesma que eu dou meus passos, confiante, plena, e segura de mim. Se modelei cada traço, não disfarço vaidade, e por isso ressurjo sempre bela, sem cerimônias de modéstia forçada. Medidas de tempo não seguem parâmetros, cada qual com o seu e boa sorte por aí. As minhas são somente minhas, e as sigo conforme o que anseio, não tente interromper o meu tempo, mandar ou desordenar. Se eu te parecer selvagem, fugidia, corriqueira, presença incerta...são influências desse espírito solto, tente perdoar. E vá levando assim, se o acaso também for amigo do seu coração, se você o ouvir baixinho, se souber ouvir.















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