segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Strawberry Swing













De fato. Quando é meio dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr-do-sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.




É noite, e da noite eu entendo bem. Te descreveria com precisão todo o meu céu e te contaria com prazer sobre a intimidade com a qual eu me movo pelo escuro. Gosto do escuro como gosto da imensidão do mundo e gosto das estrelas como gosto de onde eu me sento para observá-las, e por isso, subi mais uma vez ao telhado. Fui criada ouvindo "O Pequeno Príncipe", e acreditei que fosse eu a sua pequena princesa. Fiquei amiga da raposa, da flor e do aviador. Desenhei carneiros e persegui serpentes e jibóias. Fiz milhares de perguntas por aí, sem parecer sequer ouvir as respostas. Me intriguei pelos planetas perdidos, encontrei tesouros e, durante muito tempo, minha maior distração foi a doçura do pôr-do-sol. "É tão misterioso o país das lágrimas!", é...sabe-se lá de onde surgem, nesse íntimo misterioso nascer de tudo que dizem existir lá dentro da gente! "As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem".

E para continuar nesse mundo secreto e criativo, eu me arrisquei, mas quem não se arrisca não alcança a glória dos momentos que ganha. E com muitas lágrimas, marquei uma trilha para saber como voltar. O preço que pago por ter asas nos pés é esse coração dividido, doado em partes, conviver com os pedaços que deixo e que me faltam. Como Joãozinho e Maria, eu tive medo de não saber reencontrar. Por tantas vezes vivi nesse mundo somente meu, e quando tentei dividir, encontrei tantos valores diferentes dos que aprendi...alguns apenas repudiei, outros, ignorei. Pessoas de todos os tipos, a gente nem sempre é bem vindo.

"- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra..."
"De onde vem? O que faz aqui?" Cuidado com as respostas, cuidado com os dragões, cuidado com as suas pétalas. Se proteja.

"Suspirou de pesar e disse ainda:
- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...
O que o principezinho não ousava confessar é que os mil quatrocentos e quarenta pores-do-sol em vinte e quatro horas davam-lhe certa saudade do abençoado planeta."


Ao menos por lá, não era julgada pelo lugar aonde nasceu. Aonde o comportamento de um vale por todos os outros que vieram do mesmo lugar, a gente nem sempre se sente à vontade para risadas altas, elas podem despertar os dragões, e é com cautela que devemos despertar sentimentos de fúria.

"E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade..."

Estórias sempre me moveram...ouví-las, criá-las, realizá-las. Quis ser a Dorothi da Terra de Oz, aceitei ser a Branca de Neve dos Sete Anoes, e o número sete me persegue até hoje. Aonde vou estar no próximo dia sete? Também quero saber.


"- Tenho também uma flor.
- Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.
- Por que não? É o mais bonito!
- Porque as flores são efêmeras.
- Que quer dizer "efêmera"?
- As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer "efêmera"?
- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós, disse o geógrafo. O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.
- Mas que quer dizer "efêmera"? repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.
- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?
- Sem dúvida."



E no meio disso tudo, mais uma vez no telhado, despida e deitada, eu pensei em você. Em como o seu cheiro faz falta na minha pele, em como a sua voz completaria o meu silêncio, e em como o seu abraço esquentaria o próprio silêncio dessa noite. Mas resolvi ir dormir, ou perderia o meu próprio descansar.



- Adeus, disse ele à flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus, repetiu ele.
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão. Trata de ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.
- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz... Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.
- Mas o vento...
- Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe... Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos. Em seguida acrescentou:
- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa..."
E tendo resolvido não te incomodar, fechei os olhos, sem muito me mexer, para não te despertar.

"E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."




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