domingo, 6 de dezembro de 2009

No risk, no glory!


"Ser capitã desse mundo
Poder rodar sem fronteiras
Viver um ano em segundos
Não achar sonhos besteira."



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Inquietação pouca é bobagem. Boa mesmo é essa que te sacode e te faz mover o mundo pelo que te move. Sim, às vezes também me canso do mundo. Fecho as janelas, fecho as cortinas, me enfio em lençóis e não quero ver e nem ser vista. Não quero subir degraus, atender ligações, cozinhar. Não quero papo, quero meu espaço. Fico invisível e curto todo meu canto, até voltar a me sentir apertada, até que o escuro me incomode, que a claridade me intrigue, que o mundo me cutuque...e preciso de pouco para voltar a sair por aí desprevenida, desinibida. Enquanto percorria as areia do Deserto do Saara em cima de um camelo vi o sol mudar de cor três vezes. De amarelo pro laranja, do laranja pro vermelho, e do vermelho pro preto da noite. Vi a lua surgir entre as palmeiras do oásis, a vi cada vez mais redonda entre as dunas, e me vi cada vez mais longe nos meus pensamentos. Notei o meu espírito aventureiro sorrindo por dentro, achando tão engraçado eu já ter montado em prancha no Havaí e agora em camelo no deserto. E me lembrei de já ter pensado que, alguns atos de coragem que eu já tomei antes, não poderiam ser superados hoje. Porque já não sabia de onde tinha tirado tamanha coragem, e achava que, com os anos, eu tinha me tornado menos destemida. A verdade é que o medo sempre vai estar lá, mas seja por arte dos céus ou pelos astros que me circulam, eu sou muito protegida em tudo que vivo e faço. E não me canso de abusar da sorte, ela então faz graça e também abusa de mim. Ficamos assim nessa corda bamba dividindo espaço. Aí pode parecer que eu ainda não cresci, por ir assim inconsequente, sem calcular muito os riscos. Mas não se trata de tamanho de gente e sim de tamanho de sonhos. Não se trata de idade acumulada, se trata de experiências colecionadas. Cheguei de viagem louca por quietude. Mas foi tocar Aerosmith que lembrei da minha adolescência, quando Alicia Silverstone era o maior sucesso nos clips deles, com aquele ar de menina-adulta-dona-de-si. Aí o Steven Tyler cantava "girl, you´ve got to change your crazy ways!" e eu fazia coro junto com ele, me identificando com cada letra da frase. Mas no fundo, eu nunca quis mudar. Eu sempre me achei menina adulta dona de mim, e hoje quando olho pra trás acho graça daquela pose de independente, dona de si e do mundo, decidida a sair por aí. No passeio do deserto, conheci gente do Canadá, da Inglaterra, da Espanha, da California, gente da Suécia morando em Amsterdam. Me toquei que já tinha estado em todos esses países, e até morado em alguns deles, e fiquei feliz. Me livrar da prudência egoísta que nada arrisca é me livrar da ignorância dos que não se arriscaram a ir lá ver. Não que eu seja assim tão desbravadora sem momentos de medo ensurdecedor. Quando cheguei no Marrocos, foram tantos perrengues que eu pensei: "viu? Be carefull with what you wish for! Agora aguenta aí!", e aguentei. Não importa em quantas partes do caminho você possa vir a temer, o que importa são as partes em que você vai continuar a seguir. Porque juntando tudo depois, histórias não vão faltar. E que graça teria se não fosse assim? Pode me dizer que eu sou maluca, que não tenho juízo e que não sei me cuidar. Com tanta sorte, e um pouco de jogo de cintura, o que poderia me faltar?

Foto: Farol da Barra. Porque a saudade está tomando conta desse meu lugar.

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