sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lar Doce Lar!






"Quando o sol se põe
Vem o farol
Iluminar as águas da Bahia
No Farol da Barra, o encontro é pouco
A conversa é curta, tudo é tão rápido como
se furta
Como a luz bate nas águas
Como tudo que se passa
Com tanto cabeludo, com tanto pôr-do-sol
Bem cabia uma profecia: até o ano 2000,
O Farol além do pôr-do-sol
será o pôr-do-som
Onde verás uma realejo, onde verás um violão..."
(Farol da Barra - Novos Baianos)


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Se saudade tivesse um nome próprio a cada dor de falta que ela dá na gente, hoje saudade se chamaria Porto da Barra, se chamaria sol de Salvador, se chamaria céu da Bahia, se chamaria calor dos amigos de lá, das coisas que só tenho lá. Hoje saudade sairia cega, pegaria um avião com o coração em chamas, correndo pros braços da Baía de Todos os Santos. Admiraria o contorno do litoral quando o avião estivesse chegando, sentiria orgulho da cor do mar e do calor que se sente antes mesmo de pousar. Hoje eu acordaria em casa, sairia por ruas que tomei posse desde que me dou por gente, vestiria quase nada e me sentiria à vontade. Cumprimentaria o porteiro, o moço da vendinha, o vendedor de água de côco. Andaria descalça, prenderia o cabelo reclamando do calor. Gritaria Maria pra fazer suco, beberia suco. De goiaba, de melancia, de cajú, de cajá e de umbu. Com bastante gelo. Estenderia a canga na areia e me deitaria sob o sol. Conversaria bobagens, sorriria sem motivos, faria charme. Hoje eu ficaria na Barra até o pôr-do-sol e participaria da salva de palmas quando ele se fosse. Eu iria sem pressa no açaí de Ondina, passaria no salão com a desculpa de fazer a unha, só para jogar conversa fora com a manicure. Eu a abraçaria apertado, mesmo que tivesse só uma semana sem vê-la. Eu contaria minhas peripércias pra cabeleleira e pro padeiro da esquina, eu combinaria a quintadelas com as meninas e nos arrumaríamos bebendo Tang com Vodka e conversando em códigos. Falaria sem pensar. Sem fazer sala e nem cerimônia. Eu mandaria mensagem gaiata pros amigos, marcaria o carangueijo, a maniçoba e a feijoada. Finalizaria a noite no Caminho de Casa, esperando Renatão trazer mais um baldinho de cerveja. Eu faria amizade com mais um garçom e teria mesa esperando assim que chegasse. Eu faria amizade também em banheiro de festa e em fila de supermercado, e daria risada do gaiato do carro do lado querendo jogar o celular pela minha janela. Eu iria correr na orla repensando em tudo que ainda preciso fazer e analisando tudo que já fiz. Eu iria pra Praia do Forte no final de semana e tomaria roska de mangaba no Souza. Reclamaria do calor, mais uma vez, mas não negaria o bolinho de peixe que, de tão quente, sempre queima a língua. Acordaria tarde e com sede de praia, perguntaria sobre meu futuro a Seu João, o vidente que vende picolé. Hoje eu visitaria minha vó e Tivó. Responderia todas as perguntas curiosas e aceitaria um pouquinho mais de bolo e cuscuz, mesmo que já estivesse de barriga cheia. Hoje eu brigaria com minhas irmãs por não darem banho em Sushi e, no final, eu mesma daria. Hoje eu iria até a porta do quarto delas para saber se já chegaram em casa. Futucaria as coisas delas para saber o que andam aprontando. Hoje eu não dormiria para ficar acordada fofocando com minha mãe. Hoje eu deitaria no colo dela sem tempo pra levantar, ficaria de mãos dadas sentindo a mãozinha dela menor que a minha. Olharia seu olhar protetor e guardaria bem a imagem pra nunca esquecer. Hoje eu iria na Ilha e cataria conchinhas e as mangas recém caídas do pé. Eu pediria por vatapá, por farofa e por moqueca. Hoje eu nadaria até o flutuador e só sairia do mar quando já estivesse enrugada. Hoje eu ficaria numa pocinha apreciando os peixinhos coloridos, e rindo das Marias Pretas enfezadas. Hoje eu inventaria. De aprender a surfar, de fazer mergulho em Noronha, de roubar um banco pra conhecer o Tahiti, de fugir pra Tailândia, de morar na Europa, de mudar de curso, de mudar de cidade, de mudar de vida. E estaria exatamente aonde estou, aonde tanto quis estar...e me daria direito, de tempos em tempos, de sentir essa saudade guardada de lá.

7 comentários:

  1. Amiga,
    Que coisa mais linda! Pra variar chorei. Mas, desta vez chorei me colocando no seu lugar, sentindo saudades de tudo o que te faz falta. Sabe que torço muito por você aí, mas se eu pudesse, te arrancaria pelos cabelos da Espanha e te traria de volta para Salvador! Te amo muitoooooooooo!! Beijos, Letch.

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  2. Nossa! O que a saudade não faz por um escritor? Neste texto, fez você se superar!!!, E para mim, sua seguidora, é um marco em sua trajetória de sensibilidade extrema, uma obra prima, mas para mim, sua mãe, é uma das mais belas declarações de amor que uma filha poderia fazer!!!!Te amo minha eterna curumim!!!

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  3. Senti saudade de tudo isso e, mais ainda, de fazer tudo isso com vc!!! Acredito que um dia ainda iremos voltar a passar por todos esses momentos juntas!!! Te amo!!!

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  4. Voce nunca escreveu nada tao bem e tao verdadeiro!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Que coisa mais linda!!!Coincidência ou não hoje eu estou super saudosa de lá tb, quando vi seu e-mail já senti um aconchego....aí entrei no blog e quando li esse texto fantástico então, foi lágrima pra todo lado!!!Definitivamente era disso que eu precisava hoje!!Obrigado, Suzi!!TE AMO!!!e keep walking...

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  7. q lindo!!! adorei o texto! fiquei com mta saudade de Salvador....

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