quinta-feira, 9 de abril de 2009

A menina que roubava livros - Relatos de 31 de Julho de 2008

"Quando viesse a escrever sua história, ela se perguntaria exatamente quando os livros e as palavras haviam começado a significar não apenas alguma coisa, mas tudo. Teria sido ao pôr os olhos pela primeira vez na sala com estantes e mais estantes deles? Talvez nunca houvesse uma resposta exata sobre onde e quando isso havia ocorrido. Seja como for, estou apenas me adiantando. Antes de entrarmos em qualquer desses assuntos, primeiro precisamos dar uma volta pelos primórdios de Liesel.". Uma das páginas de "A menina que roubava livros", livro que começa triste e perturbador, mas se você insiste nele, acaba se apegando à história, ainda que seja um pouco cedo para que eu afirme isso, mas não tão cedo para já me identificar com alguma parte da história. Os livros que vêm parar nas minhas mãos, nunca vêm por acaso. Como tudo na minha vida, tudo tem um motivo de ter sido "naquele tempo" e "daquela maneira", tudo se encaixa, tanto quanto as estrofes e refrões que embalam sonoramente os meus momentos, tanto os que marcam, como os que apenas passam por mim, ou eu por eles. Uso palavras alheias para me registrar, talvez seja essa a minha maneira de dizer tudo, e nada, ao mesmo tempo. Não foi por acaso que decidi entender de Psicologia, ainda que eu não tenha tido consciência plena dos motivos que me levaram a isso quando entrei por essa porta. Sempre tive extrema curiosidade pelo comportamento humano, especialmente por aqueles difíceis de explicar, e mais ainda, difíceis de se entender. Talvez por isso, sempre atraí pessoas de personalidade questionadora, de jeitos e trejeitos instigantes, de formas de se expressar muito parecidas com as minhas, ou completamente opostas. Dizem que os opostos se atraem, porém, não se suportam. Talvez pela angústia que nos causa não poder compreender atos e comportamentos tão diferentes do nosso repertório de formas de expressão. E angústia não é um sentimento fácil de administrar, embora, muitas vezes, ela nos impulsione para conquistas. Mas e quando nem a si próprio é fácil de justificar, explicar, traduzir? Sempre que decidi me entender, me vi de forma contraditória. Às vezes consigo "ser o ser" mais contraditório do planeta. Na agonia e na pressa de conhecer, busco paz justamente em livrarias, quer ambiente mais angustiante? Consegue passar a paz do silêncio, onde somente os livros falam...e por saber o quanto eles têm para me falar, me inquieta saber que não tenho todo o tempo para ler. Minha ansiedade me faz pegar os três livros aos quais tenho direito pela cota da faculdade, mas também, me faz não ler nem metade de algum deles. A ansiedade nos move, mas também nos paralisa. Quem quer fazer tudo, pode acabar não fazendo nada. E viva o desassossego! Como fomos treinados a redigir redações na terceira pessoa do plural, perdemos o hábito de nos expressar na primeira pessoa do singular, o que nos leva a nos esconder atrás de textos que não assinamos, atrás de letras de músicas com as quais apenas nos identificamos. Perdemos o costume de expressão pessoal e singular, aquele que dá a cara a tapa, por dizer "sim, essa sou eu!". Nos expões demais, não é? Entretanto, pela grande intimidade que tenho com a palavra escrita, e não tanto com a palavra falada, posso te escrever sobre mim. Eu? Eu tenho sonhos que mal cabem em mim, eu tenho uma alma que fica apertada no meu corpo de tão afobada que ela é. Eu tenho um espírito que voa longe e me traz a busca por andanças. Eu tenho fome de conhecimento, fome de boa música, fome de boa leitura, fome de cultura, fome de paixão, fome de liberdade. Eu quero beijos que entorpeçam minha alma eufórica e que carreguem meu espírito leve para mais uma andança. Eu quero caminhar em trechos de poesia cantada, eu quero sentir minha constante pressa em ser, em ter, e em fazer o meu mundo mais colorido, mais culto, mais brilhoso, mais meu. Almejo conquistas, me viro nas circunstâncias, me jogo no desconhecido e lido com o amor com cautela, por ainda estar aprendendo a entender desse mistério. E quanto aos "primórdios" da menina que roubava livros, eu digo: sim, eles têm importância de causa e efeito. Não só na história dela. Mais uma vez cito uma frase do livro: "As pessoas têm momentos definidores, suponho, especialmente quando são crianças". Definidor pra mim, foi quando, por aquela curiosidade que nos consome, quis entender as cartas que meus pais trocavam e ficavam guardadas num criado mudo no quarto deles. Aí sim se tornou interessante a leitura nossa de cada dia...ler sobre o amor, o mistério nosso de cada dia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário