terça-feira, 20 de abril de 2010

Desassossegada


"Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.

Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.

Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."
(Martha Medeiros)


*



Eu não sei, camarada. Mas me pego pensando. Constantemente. É quase um vício. Um vai e vem sem mais delongas. Imperativo, sem preguiça. Rápido, criativo, perdido em si. E hoje quando vi o pôr do sol pela janela pensei naquele imenso prazer das coisas simples. Como ver o sol se pôr, como ver peixe em volta das pedras no mar, como mergulhar os pés em areia morna, como mergulhar você mesmo em ondas calmas e quentes, como ouvir pessoas falando apenas a minha língua ao meu redor. Por muito tempo os prazeres contrários a esses foram mais excitantes. Ver a neve cair, o frio me desafiar, a grama ficar verde, a flor voltar a reinar. Pessoas falando tantas outras línguas ao meu redor. A graça do mistério, o mistério do desconhecido. Qual rua eu encontro se virar aquela esquina? Tambem não sei, pra mim ela é novidade. Qual língua é essa que você esta falando? Provavelmente alguma que eu não entendo. Quem é você, olhando pra mim? De onde vem? Como eu te pareço? De onde você acha que vim, e porque você esta aqui? Pessoas e mais pessoas e mais pessoas. Desconhecidas, com vidas desconhecidas. Rostos estranhos, anonimos, nunca antes vistos, e que jamais sequer vou voltar a rever. Estranhos. Completos. Não compartilhamos cor, credo, criação. Não compartilhamos raça, religião. De parecidos, talvez somente o coração. O que vem depois daquela esquina, o que tem do outro lado da ponte, quem vou encontrar na próxima noite? Curiosidade. Intrigante isso de não saber, quanto mais se descobre, mais se quer ter. Por isso que eu digo: com tudo que eu busco, ainda me acompanha o que é antigo em mim. Resta descobrir se isso é pra bom, ou pra ruim.

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